Por José Eustáquio Diniz Alves.
A América Latina é a região mais urbanizada do mundo em desenvolvimento. A transição urbana aconteceu de forma acelerada na segunda metade do século XX. Em 1950, 58,6% da população latina-americana ainda vivia no meio rural e somente 41,4% estavam nas cidades. Por volta de 1960 houve empate entre a população urbana e rural. Em 1965, a população urbana de 53,3% já tinha ultrapassado a população rural de 46,7%.
No ano 2010, última rodada dos censos, a população urbana latino-americana chegou a 78,8% e a população rural caiu para 21,2%. Estima-se que em 2050, as pessoas vivendo nas cidades chegue a 86,6%, contra 13,4% no meio rural. O desafio será garantir o direito à cidade, com planejamento urbano adequado, mobilidade urbana e qualidade de vida para as pessoas, respeitando-se a preservação ambiental.
As transições urbana e demográfica são dois fenômenos fundamentais da modernidade e acontecem de forma sincrônica. Até o ano de 1800, quando a população mundial estava em torno de 1 bilhão de habitantes, o percentual de pessoas vivendo em cidades não passava de 5%, enquanto as taxas de mortalidade e natalidade eram muito elevadas.
Em 2011, a população mundial chegou a 7 bilhões de habitantes, com pouco mais da metade das pessoas vivendo nas cidades. Especialmente no século XX, acompanhando o processo de urbanização, houve uma enorme redução da mortalidade infantil, um grande aumento da esperança de vida e, depois de um certo lapso de tempo, uma consistente redução das taxas de fecundidade. Como as taxas de mortalidade caíram antes das taxas de natalidade, houve um grande aumento da população. Mas em geral, as mesmas forças que provocaram a queda das taxas de mortalidade, também afetaram as taxas de natalidade.
Nos últimos 2 séculos, as cidades lideraram as inovações econômicas, tecnológicas, científicas e culturais que reconfiguraram as estruturas familiares, a organização social e as relações de trabalho, possibilitando avanços sem precedentes nos direitos de cidadania de parcelas cada vez mais amplas da população. O mesmo acontece com a América Latina e Caribe. A urbanização tem sido o principal vetor da transformação socioeconômica e demográfica do Planeta e do processo de modernização. Mas também tem sido a principal agente da degradação da natureza.
Diversos estudos mostram que concentrar a população em um espaço pequeno traz ganhos de aglomeração e apresenta melhores resultados do que espalhar a população no território. O processo de urbanização já trouxe muitos ganhos históricos para o ser humano e poderá trazer vantagens ainda maiores nas próximas décadas, se houver políticas corretas para destravar as forças do progresso civilizatório, reduzindo as desigualdades e aumentando a proteção do meio ambiente.
Contudo, o crescimento desregrado das áreas urbanas nas próximas décadas pode levar a uma situação de crise energética, crise alimentar, crise climática e crise financeira. Construir cidades sustentáveis, reduzindo a pegada antrópica das cidades, é uma necessidade inadiável.
Para mais informações, visite:
ALAP – Associação Latino Americana de População
WONG, L.R., ALVES, JED, RODRÍGUEZ, JV, TURRA, CM (Orgs). “Cairo+20: perspectivas de la agenda de población y desarrollo sostenible después de 2014“, Rio de Janeiro, ALAP, abril de 2014
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]
Fonte: Portal EcoDebate