Universidades federais não têm mais de onde cortar despesas, diz reitor

Situação financeira das 69 universidades está no limite. Mesmo que não fechem as portas, podem suspender serviços essenciais

Os cortes na educação tornaram-se ainda mais drásticos com o governo de Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação: Adufla/Andes

Por Cida de Oliveira.

As 69 universidades federais brasileiras estão no limite e não têm mais de onde cortar despesas sem que coloquem em risco o seu funcionamento. Com cada vez menos recursos, em muitas unidades já foram cortadas bolsas, a limpeza e a manutenção da infraestrutura. Não há mais como fazer melhorias, como obras de acessibilidade.

A segurança também foi afetada, o que põe em risco o patrimônio público e as pessoas. Há ainda dificuldades para investir na modernização de equipamentos e redes de computadores. E se permanecer a grave situação financeira, poderá faltar dinheiro até para fornecedores de serviços essenciais, como energia elétrica. Mesmo que não fechem as portas literalmente, mal poderão manter ensino e pesquisa – o que é quase a mesma coisa.

“Além do corte de R$ 1 bilhão no orçamento deste ano, 18% a menos que em 2020, um orçamento já insuficiente, temos ainda R$ 700 milhões contingenciados. Precisamos que o ministro Paulo Guedes libere o montante”, disse à RBA Edward Madureira, reitor da Universidade Federal de Goiás(UFG) e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Defesa das universidades federais

“O governo está firme no propósito de desfazer, de desconstruir. E as palavras não são minhas, mas do presidente da República, ditas em Washington em março de 2019. Ali ele deu a entender que estaria muito feliz em desconstruir e desfazer”, disse o professor da Universidade Federal de Goiás Nelson Cardoso Amaral, em ato virtual em defesa das universidades públicas nesta terça-feira (18) promovido pela reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

De acordo com ele, o objetivo do presidente Jair Bolsonaro é desfazer tudo o que foi realizado a partir de 1988, com a Constituição. “Tudo que foi feito nesse tempo tem a ver com o marxismo cultural (combatido pelo governo e seus apoiadores), por isso esse processo de desfazimento”.

O professor exibiu dados e gráficos que mostram a grave situação das universidades federais. “A gente percebe que de 2019 para 2021 há uma queda dos salários devido a inflação e o congelamento dos salários no período, que teve impeachment, prisão do presidente Lula, toda a ação da lava jato, a Emenda Constitucional 95, a reforma da previdência, trabalhista, enfim. Um período muito importante, que deve ser analisado com cuidado.”

universidades federais

No gráfico a seguir, os dados mostram uma redução nos repasses do Ministério da Educação (MEC) para as despesas correntes das universidades federais. Ou seja, pagamento da manutenção da universidade: água, luz, telefone, internet, trabalhadores terceirizados, manutenção de equipamentos, material de consumo. “É uma queda muito grande. São R$ 3,5 bi a menos e a situação de 2021 é drástica. Será difícil chegar até o final do ano”, disse Cardoso Amaral.

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Outro gráfico que mostra a queda de recursos do MEC para investimentos, como em equipamentos e laboratórios mais modernos, por exemplo, tão importantes para a pesquisa de ponta.

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“Se a gente somar o total das despesas correntes, dos investimentos, e dividir pela quantidade de alunos, se tem a noção desse decréscimo violento de 2013 para cá. Um patamar abaixo de 2005. É drástica a situação e é certo que deteriorará as instituições universitárias”, destacou.

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O professor trouxe ainda um gráfico sobre o crescimento no número de alunos a partir de 2006, com a expansão da rede federal no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os dados referentes aos anos de 2019 e os dois anos seguintes são repetidos, já que não houve divulgação do censo da educação superior. “Espero que esses números todos, que pertencem ao Inep, continuem existindo. O negacionismo faz com que essa gente não goste de estatísticas. Por isso nenhum esforço para a realização do censo.”

E destacou que há atualmente 18% de jovens de 18 a 25 anos no ensino superior. O Plano Nacional de Educação estabelece percentual de 33% em 2024. “Isso mostra que há muito ainda que se expandir, o que não será possível. A EC 95 congela os investimentos do poder executivo federal”, lembrou.

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