A União dos Trabalhadores da Terra (UTT) convocou um acampamento na praça do Congresso Nacional em Buenos Aires, Argentina, em um ato realizado na segunda (20) e terça-feira (21) para defender o projeto de lei para acesso à terra na Câmara dos Deputados.
O PL de Acesso à Terra propõe a criação do Fundo Fiduciário Público de Crédito para a Agricultura Familiar, que facilitaria o acesso a créditos para aquisição de imóveis rurais e a construção de moradias para famílias produtoras de terra própria.
Apenas 13% da terra na Argentina pertence a pequenos produtores, que, por sua vez, geram 60% dos alimentos que circulam no mercado interno do país. Por outro lado, 1% das empresas agrárias controlam 36% da terra cultivada, segundo divulga a própria organização. A Lei de Acesso à Terra garantiria o desenvolvimento dos pequenos produtores, e, em consequência, a produção de alimento saudável no campo, dado o cenário de desvantagem e pouco investimento do Estado em relação às grandes empresas do agronegócio.
A mobilização foi concluída com música, flores e mesas de debate. Coincidindo com o início da primavera, o ato de dois dias realizou, como costume nos atos da organização, distribuição de flores e verduras orgânicas cultivadas pelos próprios membros da UTT, além de materiais didáticos sobre soberania alimentar, agroecologia e um atlas completo sobre o agronegócio transgênico.
A última mesa de debate do ato abordou o trigo transgênico HB4. Desenvolvido na Argentina, o trigo geneticamente modificado está sob análise da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) no Brasil. A pauta volta a cada reunião mensal da comissão, sem previsão de tratamento ou resolução.
“Segundo previsões da própria Bioceres, se aprovado, serão cultivados mais de 1 milhão de hectares de trigo transgênico”, pontuou o advogado e ambientalista Marcos Filardi, criador do Museu del Hambre (Museu da Fome), mencionando a empresa que financiou o desenvolvimento da semente transgênica.
“Esse trigo estará presente nas nossas mesas e em todos os alimentos que comemos, como grandes consumidores de trigo que somos, com sua carga de venenos, com o glufosinato de amônio”, disse.
Integrante da UTT, Maritsa Puma destacou que, assim como ela, muitas mulheres passaram a resgatar conhecimentos para o cultivo livre de agrotóxicos. “Começamos a recuperar saberes dos nossos pais e avós sobre como cultivar abacate, milho, como faziam para plantar sem a necessidade de agroquímicos. Aprendemos sobre essas outras formas de produzir, também de outros países, continentes, de referências mundiais”, pontuou.
Com a realização do ato em frente ao Congresso Nacional, a mensagem faz eco às palavras de Maritsa: sem o acionar do Estado, a agroecologia não tem como enfrentar os malefícios ambientais, econômicos, sociais e sanitários da agroindústria e do extrativismo.
“Estamos a tempo de reverter essa situação”, disse Filardi, na conclusão de sua fala na mesa de debate. “Há uma saída coletiva, e necessariamente coletiva, que é a agroecologia e a soberania alimentar. Temos exemplo disso no nosso país. A UTT vem apostando forte nesse modo de produzir nossos alimentos, em harmonia com a natureza e os seres humanos. É uma saída necessária, urgente e é possível, e já tem lugar nos nossos territórios”, concluiu.
Edição: Thales Schmidt