Uma tragédia em construção: mortes por covid-19 no Brasil crescem em ritmo quase cinco vezes superior à média mundial

A situação do Brasil continua se degradando rapidamente. Além de dividir com o México o maior ritmo de expansão das mortes, tem também o maior ritmo de expansão do número de casos, que aumentou 136% em 14 dias. Registrou na última semana 5.228 mortes e 86.225 novos casos, um número altíssimo, considerando-se a baixa testagem. Há 45 dias, 0,5% dos mortos eram do Brasil, e hoje este índice já passa de 5%. No dia de ontem, 21% dos mortos registrados no mundo ontem eram do Brasil.

Reprodução Esquerda Online

Por Gilberto Calil

O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas. Tomamos como referência principal o ritmo de crescimento do número de mortos, tendo em vista que o patamar de subnotificação dos casos no Brasil inviabiliza qualquer comparação da evolução do número total de casos. Entendemos que o cálculo do ritmo de crescimento é mais revelador do a simples comparação dos números absolutos ou dos índices de mortes por milhão de habitantes, tendo em vista que a expansão do Covid-19 se iniciou em momentos diferentes e a pandemia encontra-se em estágios distintos.

O ritmo de crescimento mundial do número de mortes vem diminuindo de forma consistente. Há 30 dias era 147%, há duas semanas era 46% e agora está em 27%, uma redução que comprova a efetividade das medidas de contenção através de política de isolamento social adotadas de forma rigorosa em muitos países.

A situação do Brasil continua se degradando rapidamente. Além de dividir com o México o maior ritmo de expansão das mortes, tem também o maior ritmo de expansão do número de casos, que aumentou 136% em 14 dias. Registrou na última semana 5.228 mortes e 86.225 novos casos, um número altíssimo, considerando-se a baixa testagem. Há 45 dias, 0,5% dos mortos eram do Brasil, e hoje este índice já passa de 5%. No dia de ontem, 21% dos mortos registrados no mundo ontem eram do Brasil.

Brasil e México, embora em patamares absolutos distintos, mantém-se com um ritmo de crescimento perto de cinco vezes superior à média mundial em 14 dias, tendo crescido respectivamente 130% e 140%, ritmo muito superior ao dos países que vem a seguir: Canadá (52%), Suécia (34%) e Estados Unidos 32%). Todos os países diminuíram o ritmo de expansão em relação ao levantamento de dois dias atrás foi mas os que menos diminuíram foram Brasil (de 132% para 130% e México (de 142% para 140%). Os Estados Unidos seguem diminuindo diariamente o ritmo de expansão, mas seguem com quase um terço das mortes diárias do mundo. A grande maioria – nove dentre os quinze países – teve um crescimento do número de mortes entre 9% e 21% no período de 14 dias, associado a uma clara redução dos novos casos e diminuição do número de casos ativos. A China registra apenas uma morte há 22 dias.

Brasil e México são, também, disparadamente os dois países com menor número de testes. O número de testes por milhão de habitantes que Brasil (3.462) e México (1.338) é absolutamente inexpressivo. Na relação entre testes realizados e resultados positivos, o Brasil tem números ainda piores, com 2,88 testes realizados por resultado positivo).

O elevado ritmo de crescimento das mortes no Brasil contraria a tendência internacional de melhora da situação e indica um enorme agravamento do quadro nacional. Já tendo passado de 16.000 mortes oficializadas, o país deveria ter já um ritmo de crescimento diário de novos casos abaixo de 1% para ao menos ter a expectativa de começar a reduzir o ritmo de crescimento das mortes em duas a três semanas. No entanto, o crescimento de casos vem aumentando 6% a 7% ao dia. Tornam-se cada dia mais urgentes políticas efetivas de isolamento social e inclusive de lockdown em várias regiões. Medidas deste tipo foram adotadas por todos demais os países muito antes de chegarem no trágico patamar em que estamos no momento. Nosso isolamento social continua sendo relaxado e sabotado pelas autoridades federais, com cumplicidade explícita do grande empresariado, produzindo a conjunção trágica entre altas taxas de crescimento das mortes e dos novos casos, em um cenário de subnotificação generalizada. No país, o número de mortes está dobrando a cada 12 dias e o número de casos a cada 10 dias, enquanto no mundo em ambos os casos os números em 30 dias. Somos já o segundo país com mais mortes diárias, o segundo país com mais novos casos diários (depois dos EUA, mas com número que rapidamente se aproximam e que não fosse a baixa testagem já estariam à frente dos EUA), o segundo país com o maior ritmo de crescimento de mortes (depois do México), o país com maior ritmo de novos casos diários, o segundo país do mundo com maior número de pacientes internados em estado grave (19% do total mundial, mesmo não com números não atualizados há mais de vinte dias)

Os Estados Unidos seguem com um elevado ritmo de aumento das mortes, ainda que com tendência de redução, estando em 32% em 14 dias, mantendo expressivo número de mortes diárias e inúmeros focos regionais, seguindo com aproximadamente um quarto do total de novos casos e do número de mortos do mundo. Itália, Espanha, França, Bélgica e Alemanha conseguiram reduzir a expansão dos novos casos a menos de 0,2% ao dia (índice 30 vezes menor que o Brasil). Nos últimos dias, o número de mortes no Brasil já foi superior a Reino Unido, Espanha, Itália, França, Alemanha, Bélgica e Holanda somados.

Outros países, situados na América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, que ainda não estão entre os 15 primeiros em número de casos ou de mortes, vêm tendo crescimento bastante superior à média mundial, com situação se agravando rapidamente. Alguns tiveram crescimento do número de casos superior a 100% nos últimos 14 dias: Kuwait (2.97x), Bolívia (2.56x), Afeganistão (2.44x), Bangladesh (2.35x), África do Sul (2.28x), Chile (2.23x), Índia (2.16x), Gana (2.11x), Catar (2.1x), Colômbia (2.04x), Omã (2.04x), Paquistão (2.01x), Rússia (2x), Peru (2x) e Arábia Saudita (2x). Dentre eles, Índia, Rússia, Equador e Peru já estão entre os 20 países com mais mortes.

É imprescindível e urgente reduzir o ritmo de crescimento do número de casos e do número de mortes no Brasil, pois a manutenção destes índices projeta um cenário cada vez mais terrível. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha o mesmo (2.3 vezes em 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 38.762 em 1º/6, 89.152 em 15/6 e 205.050 em 29.6. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que pode ocorrer caso não sejamos capazes de diminuir o atual ritmo de forma muito mais vigorosa. Para isto, são inadiáveis medidas muito mais rigorosas de isolamento social, associadas à garantia de efetivas condições de sobrevivência ao conjunto dos trabalhadores, em especial aos mais precarizados. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas protetivas.

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