Por Leandro Monerato.
“Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”, dizia o revolucionário russo, Vladimir Lênin. Algo que nos dias atuais seria dificilmente negado pelos brasileiros. A velocidade com a qual os acontecimentos se atropelam uns aos outros é crescente, e mesmo aqueles que se dedicam profissionalmente a acompanhar os fatos não conseguem dar conta de tantos ataques que estão se empilhando contra os trabalhadores, contra a população pobre, contra a economia nacional.
Os motivos pelos quais lutar são tantos que escolher um ou outro acaba sendo inevitavelmente algo arbitrário. O fim da CLT, a terceirização, o assalto à nossa aposentadoria, a censura contra jornalistas, o genocídio diário nas periferias pela polícia, a destruição da indústria nacional e nossos empregos para garantir sobrevida aos monopólios estrangeiros, a prisão política de inúmeros militantes, a intervenção militar. Cada um desses ataques mereceria enormes mobilizações populares em protesto. Difícil definir qual seria uma prioridade.
Imediatamente após o golpe, a esquerda anti-golpista recolheu-se derrotada, reflexiva, procurando digerir desilusões que haviam sido cultivadas por décadas em relação a uma suposta democracia brasileira. De outro lado, setores da esquerda sectária que haviam ficado de fora da luta contra o golpe, ou seja, haviam compactuado com o golpe, tomaram a iniciativa e se esforçaram por dirigir todos os movimentos contra os ataques isolados e procuraram sufocar a luta contra o golpe substituindo-a pelo “Fora Temer”.
Já em dezembro, a nossa derrota diante da PEC da morte foi seguida por inúmeros outros ataques, contra os quais o movimento não teve tempo hábil para se reorganizar. E todos começaram a perceber a natureza inglória da luta contra ataques cada vez maiores, num ritmo cada vez maior. A sucessão dos fatos impôs ao movimento que se levantasse contra o golpe. Contudo, as direções buscam ainda escamotear e eludir qualquer movimentação, enquanto, por cima, buscam se acomodar e, de forma ridícula, exercer uma “oposição democrática” ao golpe.
Se as ilusões nas eleições de 2018, se as ilusões na derrubada de Temer isoladamente, se a política medrosa e restritiva de sectários e oportunistas prevalecer, nesse momento, estaremos deixando de aproveitar um contexto relativamente favorável à nossa luta, talvez seja a nossa penúltima chance antes que o caldo entorne definitivamente e uma repressão duríssima se generalize.
Esse momento ficou evidenciado pelo fracasso da extrema-direita que não levou ninguém às ruas no último dia 26 de março. Longe de nos fazer esquecer do crescimento de organizações fascistas, tal fato reflete o grau que atingiu a luta interna entre os golpistas.
O caráter imperialista do golpe de estado gritou muito alto no último período. A entrega do Pré-Sal, dos aeroportos, a destruição da indústria nacional pela Lava Jato, indicam o conteúdo econômico do golpe. Os representantes da burguesia nacional estão todos sendo ameaçados; o que se iniciou pela derrubada do PT, agora atinge setores do PMDB.
Contudo, a envergadura da operação não encontrou ainda força política capaz de levá-la a cabo com a velocidade necessária. As forças não se equilibram com base num acordo como no período anterior, mas pela incapacidade de um inimigo liquidar o outro o que torna a situação extremamente fluída. E assim, o regime político apodrece à luz do dia; o que, por sua vez, serve como justificativa aos defensores da intervenção militar.
Essa relativa debilidade dos golpistas deve-se a uma situação internacional bastante complexa. O bloco imperialista, forjado no fim da Segunda Guerra, apresenta rachaduras irrecuperáveis. Se antes, atuavam unidos contra todo o mundo, a eleição de Trump, a vitória do Brexit na Inglaterra, a possibilidade de o fascismo vencer também na França e na Alemanha estão colocando todos em sinal de alerta.
Podemos resumir a situação utilizando a metáfora do vento que para antes da tempestade. As nuvens estão carregadas e, a qualquer momento, pode desabar a tempestade.
Mas ainda há tempo de agir.
Qualquer tergiversação na luta contra o golpe, qualquer distração pode ser fatal. Como sabemos, a burguesia nacional irá inevitavelmente ceder; mas, por hora, consegue retardar o ataque com uma manobra aqui outra acolá. Aproveitar que os golpistas batem cabeça entre si para sair às ruas de forma contundente com objetivo de derrotá-los de conjunto é tarefa urgente.
—
Foto: Marcelo Zapelini, para Desacato.info.