Por Thiago Burckhart, para Desacato.info.
O título deste artigo foi extraído da música “Multi Viral” da banda porto-riquenha “Calle 13”. Esse verso nos faz pensar na imensidão de assaltos pelo qual somos feitos cotidianamente reféns, quando certas notícias nos são mal contadas. Milton Santos, o grandioso pensador baiano, nos falava que vivemos em um mundo marcado por tiranias, sendo as duas principais, que mais estão presentes em nosso cotidiano, a tirania do dinheiro e a tirania da informação.
A tirania da informação pode ser entendida como o boom publicitário que vemos a todo o momento, seja na televisão, no celular, no rádio, nas revistas, nas ruas, em praticamente todos os lugares. Contudo, a informação que se vê e que se lê pode ser facilmente manipulada, haja vista que as grandes corporações que estão “comprometidas” com a difusão da informação possuem interesses econômicos e mesmo políticos. Dessa forma, precisam de um “rebanho” que lhes dê legitimidade, credibilidade e poder para pôr seus interesses em prática. Desse modo, a informação vendida e mercantilizada molda o mundo e constrói realidade(s).
A construção da realidade
A realidade é cada vez mais construída pelos meios de comunicação de massa, que biopoliticamente, controlam a subjetividade de indivíduos sujeitados aos seus ditames. Dessa forma, os sujeitos cada vez mais perdidos na imensidão da informação que lhe é passada, acabam por acreditar em mentiras midiaticamente produzidas, sem nem questionar ou mesmo refletir sobre a informação que lhe é passada. A filósofa Márcia Tiburi, em seu livro “Olho de Vidro”, afirma que a (tele)dramartugia produz a ficção, o puro deleite artístico, já a televisão, enquanto conteúdo e efeito televisivo, constrói realidade(s).
Da mesma forma, pode-se dizer que a notícia, a informação, constrói – mesmo que em nível ideológico – realidade(s). Estas ditas realidades são ideologicamente produzidas, ou seja, representam aquilo que a nível simbólico não é necessariamente, materialmente ou objetivamente real. Esse profundo processo de dessubjetivação é o motor da indústria cultural.
Essa construção obedece, em muitos casos, aos ditames da notícia mal contada. Não estou aqui a dizer que toda informação produzida pelos meios de comunicação de massa são mentiras, mas que a construção subjetiva da realidade, feita pelos meios de comunicação de massa, obedece certamente a interesses que não correspondem aos mesmos interesses de cunho popular.
A informação e as redes sociais
Nesta última semana fomos todos surpreendidos pela notícia da morte de mais uma vítima da guerra às drogas no complexo do Alemão, dessa vez de uma criança de 10 anos, Eduardo de Jesus Ferreira, morto por policiais.
Após esse triste fato, passou a se vincular por meio das redes sociais (Facebook, Whatsapp, entre outros) uma suposta foto de Eduardo segurando uma metralhadora em suas mãos, como uma tentativa de justificar a morte do garoto, como uma tentativa de generalizar que todos que morrem em favelas são envolvidos com o tráfico de drogas, como uma tentativa de difamar uma criança morta, como disse o Deputado Federal Jean Wyllys. Ocorre que tratava-se de uma imagem falsa, a foto não era de Eduardo, mas de um outro garoto.
Com a “democratização” das redes sociais, a informação pode ser ainda mais difundida e manipulada grosseiramente, já que esta pode ser facilmente construída por pessoas não ou mal instruídas. Nesse caso, a informação contribui para a disseminação da ignorância, dos clichês e dos preconceitos enraizados da cultura brasileira. Essa dita “informação” ainda contribui para a crise de analfabetismo político que vivemos hodiernamente.
Pensando na proposta de utilizar os mecanismos hegemônicos de modo contra-hegemônico, a informação deve ser utilizada para a emancipação social. Ela deve ser compreendida como um instrumento para a consolidação da nossa frágil democracia. Ela deve ser tratada de modo que nos propicie uma reflexão crítica sobre o assunto tratado e sobre nossa realidade. Ela não pode servir a interesses econômicos e políticos de pequenos e poderosos grupos. Nesse quesito as mídias alternativas – como o Portal Desacato – são grandes exemplos que a informação, a notícia, a partir de pressupostos éticos, deve ser utilizada para o nosso amadurecimento em um processo de construção coletiva da democracia.
Thiago Burckhart é estudante de Direito.