Além da brincadeira do aviú como teste para saber quem conhece a Amazônia mais intimamente (aquele que aceita o convite para comer uma costela de aviú sai da lista), tenho um recurso para saber quem é mesmo cidadão do Pará. Só dou o certificado àqueles que já conhecem Barcarena, Tucuruí, Carajás e Trombetas (mais recentemente, incluí Juruti). Sem ver com os próprios olhos esses cinco locais, ninguém é capaz de saber o que acontece de decisivo no Estado e se preparar para se tornar personagem ativo na história contemporânea. Por esse critério, há poucos cidadãos paraenses no Pará.
As negativas dos consultados me leva a sugerir às empresas que atuam nessas áreas a adoção de um programa de visitas aos seus empreendimentos. Em janeiro e julho, meses de férias, turmas de 20 alunos das escolas públicas de ensino médio de Belém seriam convidadas pela Albrás, Ymeris, Eletronorte, Vale, Mineração Rio do Norte e Alcoa para uma visita de uma semana a cada uma das suas plantas: de alumínio (incluindo a alumina da Alunorte e a mina de Paragominas, com o seu mineroduto), caulim, energia, minério de ferro e bauxita. Seriam, portanto, sete turmas de 20 alunos, perfazendo 140 pessoas, mais os 28 professores.
Seriam selecionados os alunos com as melhores notas gerais no semestre, incluindo todas as disciplinas. Quatro professores, escolhidos por sorteio, acompanhariam os estudantes. Além de ter todas as despesas pagas pelas empresas, eles receberiam bolsa valendo um salário mínimo, como reconhecimento ao seu desempenho, apesar das péssimas condições da rede pública de ensino do Pará, das piores do país.
As visitas seriam orientadas e as empresas podiam fazer todas as relações públicas que quisessem, mas se comprometeriam a mostrar tudo e responder a todas as perguntas. Como efeito da visita, os 20 alunos teriam que redigir um relatório de avaliação do que viram no final da permanência, exatamente na véspera do dia da volta.
Os textos seriam reunidos e publicados pelas empresas em conjunto. A edição teria tiragem suficiente para ser distribuída por todas as escolas públicas do Estado, sem qualquer censura ou alteração no texto original, incluindo eventuais erros de português ou incorreções informativas. Assim, outros estudantes podiam fazer sua avaliação crítica.
Uma comissão de professores, dentre os que acompanharem os alunos, ficaria responsável pela parte editorial do trabalho e por transformar o livro numa fonte de discussão em sala de aula. Com o tempo, se formaria uma biblioteca capaz de refletir o que sabem os estudantes, acompanhando-se a progressão do seu conhecimento e a contribuição que estarão em condições de dar à melhoria das condições de vida e de aprendizado na sua terra.
Quem concordar que se apresente. Julho já se aproxima.
Lúcio Flávio Pinto é jornalista e paraense. Publica o Jornal Pessoal (JP)
Fonte: Adital