Por Raul Fitipaldi.
Esse conformismo que ocupa tudo, esse nonsense aspecto das gerações posmodernistas, essa eleição vadia onde nem o debate nem os candidatos valem a pena, esse instante de nada e de tudo que dura um minuto, essa felicidade inacabada e essa infelicidade que não termina. Uma eleição sem eleição e sem votantes conscientes, apenas uma massa quieta, governada, ponderada, moderna em gestos de cadavérica paz branca e em aceitação do individualismo mais procaz como valor de troca por trabalho, comida, moradia e um futuro apenas possível, descansa com baixíssimos percentuais de exceção e se cicatriza nas classes B e C do Brasil. Palhaços, oportunistas, corruptos, santos de aluguel, futebolistas, princesas da noite, fracassados e loucos se oferecem para Assembléias Legislativas e Congressos, pagodeiros para o Senado. Brasil Show-Business escolherá os novos atores em poucos dias. Dilma Roussef governará uma nave felliniana que vai a algum lugar parecido ao porto de aonde saiu. Em alto mar uma duvidosa e alegórica turma de criaturas não políticas, prepara-se para o festim romano. A mesa está servida no Brasil potência, sem ideologia, sem princípios e sem idéias. Um povo manso discorre à margem do oceano medíocre da política voyeurista, tosca e isolada do mundo real.
Disse-me um ex-militante da esquerda, que o trabalhador compreende que mesmo sem ter obtido muitos ganhos, e mesmo ainda tendo perdido algumas conquistas, há que dar continuidade ao modelo sintetizado pelas ações do Lula. Disse-me um ex – militante da direita, que está feliz com o governo Lula, que houve um crescimento da imagem do Brasil no exterior como nunca antes. Disse-me uma amiga estudante que vai anular o voto porque os políticos são todos iguais e não há política para os assuntos prementes. Disse-me um vizinho que vai esperar às últimas pesquisas no Estado para saber a quem votar, quem for primeiro pra governador leva seu voto, ele não vai perder, e para presidente: Dilma.
É fato que quem vota ou está satisfeito ou é contra, ou não lhe interessa em nada este processo. É fato que quem anula não está satisfeito e também não se interessa em nada por este processo. Uma eleição insossa, patética, inútil que não seja pela afirmação da autodestruição de uma direita conservadora, escravocrata e fascista que perde terreno no seu próprio campo e que tem no Serra a imagem deslavada da sua triste despedida. Para que uma direta ultrapassada onde as multinacionais e os grandes empresários podem ter uma centro esquerda de aspecto agradável, satisfatório, moderadíssima e conciliadora?
Esses caras quietos que andam como zumbis pela rua, pelas universidades, com as orelhas cobertas por botões musicais, os olhos dentro do display do celular, caçadores de endorfina e almoços comunitários, esses caras são os dirigentes daqui a 20 anos. Com qual projeto, com qual ideologia, com qual país, com qual planeta? Nada disso se discute nesta eleição, apenas não pagar a multa e seguir adiante, com os olhos, a boca, os ouvidos e o nariz tampados. Quietos como cadáveres impensantes predestinados à nada.