
Por Pablo Moscatelli*
Nos últimos anos
Há vários anos nos acostumamos a ver condições climáticas impressionantes em todo o mundo, as notícias diariamente nos alertam para as mudanças climáticas, suas causas e consequências para nosso planeta, bem como para nosso entorno cotidiano.
Fomos aos poucos observando um certo discurso de responsabilidade, repetido assiduamente nos jornais, rádios, e outros meios locais, pelo menos em João Pessoa.
Chegaram ao ponto de colocar a culpa do descaso em uma árvore, “Árvore gera transtornos para os moradores de um bairro da capital”.
É claro que a mudança climática já é uma realidade, que existem condições meteorológicas complicadas e adversas, mas também; é verdade que, este é um problema que se instalou definitivamente nos últimos anos, e as autoridades não tem tomado nenhum reparo, precaução, ocupação a esse respeito, para evitar, minimizar as consequências para os habitantes de nossos diferentes bairros, geralmente nas periferias. Não podemos simplesmente colocar a culpa em um só fator, porque diferentes fatores contribuem para as condições de vida da população.
As pessoas que moram na capital da Paraíba tem enfrentado fortes chuvas nas últimas semanas, um fluxo acima do que deveria chover nestes dias de verão.
É necessário entender, que as chuvas são um fenômeno natural importante para a existência humana, e o equilibro de diferentes ecossistemas. A impermeabilização do solo desenfreada por obras de pavimentação, que não foram acompanhadas, a implementação de uma infraestrutura de drenagem, a falta de saneamento básico, e a não contribuição com espaços verdes de relevância são as responsáveis.
A gestão municipal é a responsável por esses transtornos. O aumento da temperatura média global, os ciclos hidrológicos estão mais intensos, o que significa maior volume e pancadas de chuvas. Precisamos urgente frear o desmatamento na nossa cidade, pois as árvores oferecem um serviço ecossistêmico muito importante na absorção da água de chuva, como na regulação da temperatura. Não podemos mais continuar produzindo espaços urbanos baseados numa infraestrutura cinzenta, isso é do passado e extremamente prejudicial e danoso.
As áreas clássicas de inundação em João Pessoa foram controladas, porque, muito provavelmente, houve limpeza das galerias com antecedência. Mesmo assim, a cidade registrou pontos de alagamento na Estação Ferroviária, no Varadouro, e nos bairros, como o das Indústrias.
Sobre o lixo que é jogado nas ruas, também é responsabilidade da gestão municipal, a falta de coleta nas periferias da cidade, se a prefeitura fizesse a coleta de maneira correta, as pessoas não precisariam de jogar lixo na rua. Atualmente, não há em João Pessoa nenhuma campanha para manejo dos resíduos e a prefeitura não tem a mesma frequência da coleta nos bairros de periferia e nos bairros da orla, nem pensar numa transição com um modelo mais sustentável, com ferramentas modernas na recolecção, armazenagem na rua como nas moradias de lixo; há uma espécie de racismo nesse sentido, talvez aporofóbico.
Os alagamentos nas casas poderiam ter sido evitados, si a defesa civil tivesse feito um trabalho preventivo junto as famílias desses bairros, e que já enfrentam há anos este problema. Boa parte dessa nova pavimentação foi feita acima do nível da água das calçadas, pavimento em cima de pavimento, sem saneamento básico, correndo trás o relógio eleitoral. A defesa civil deveria mapear essas casas que correm risco de inundação, se o alerta para as pessoas não foi dado, é falha da defesa civil, não dá para culpar a população nem muito menos a natureza por nada disso que está acontecendo. As consequências de tudo isso é culpa de um planejamento mal feito e de implementação de obras, sem integração com outras infraestruturas.
João Pessoa reclama a gritos por sensibilidade, estamos comprometendo o futuro das nossas próximas gerações por vender mais um pacote turístico, “a queridinha do verão”; como a mídia tem chamado para fazer o destaque no verão, porque ela pode ser transformada na odiada por seus habitantes no futuro. Devemos exigir mais comprometimento dos agentes sociais, políticos, o governo e a prefeitura estão nos vendendo fumaça, para benefício privado.
A cidade precisa de mais árvores, com espaço para crescerem raízes fortes, e quem machucar apenas uma delas seja considerado crime ambiental e contra a humanidade. Praças pensadas para a convivência, com jogos adequados para todos, em todos os bairros, porque, João Pessoa não é só praia e visitantes. Existem números impressionantes em falta de saneamento básico, sem planejamento em recolecção de resíduos, não existem maquinaria adequada para sua colheita e reciclagem. O cimento na cidade está aquecendo nossas vidas, e a altura dos prédios não estão nos deixando ver a realidade, ainda há crianças nas ruas, cada vez mais famílias em situação de rua, devemos deixar de olhar pra o lado, e começar a cuidar de quem mora neste lugar, e que os diversos organismos governamentais deixaram em essas situações de esquecimento e vulnerabilidade.
O deslocamento obrigatório das pessoas nativas, originárias dos bairros na capital paraibana é cada vez mais forte, cruel, e agressivo. Colocar as pessoas vulneráveis em condições de esquecimento é uma das formas mais graves de racismo, um racismo social, cultural, educativo, econômico baseado em gênero e gêneros, também é racismo etário, e fundamentalmente ambiental, colocando as pessoas em situações inumanas, deploráveis.
Tudo isso foi colaborando para que nos últimos dez anos João Pessoa se transformasse na capital mais desigual do pais, a desigualdade tem crescido de maneira exponencial nos últimos anos, provocando a exclusão de centenas de pessoas por nossa capita e estado. O silencio constante de agentes democráticos de nossa sociedade só colabora para gerar condições mais favoráveis para estes miseráveis, que só incrementam a miséria para um colapso social que garantem o discurso privativo dos âmbitos sociais necessários para um futuro melhor, como a educação, saúde, geração de empregos de qualidade, e assim, hipotecar o futuro de muitas pessoas.
O desenvolvimento de alguns setores da alta sociedade está matando o resto da comunidade local, comunidade fundamental para o desenvolvimento socioeconômico de nossas estruturas democráticas. Não existe sustentabilidade sem distribuição das riquezas, e não existe futuro sem a sociedade toda envolvida nos âmbitos democráticos de discussão e geração de políticas públicas em desenvolvimento humano para uma cidade melhor, e verdadeiramente para todas e todos.
