Por James Ratiere, para Desacato. info.
Algo me engoliu mãe, uma sensação estranha de estar bem, de que há calmaria, e qualquer conflito antigo agora é apenas passado.
Sinto-me errado, de uma prosa que agora tem fim, d’antes tempestade, agora inclinado a calmaria. Calmaria do tédio, do nada, de coisas que nem existem. Vão me perguntar porque não agradeço por isso. Por que estou na inércia, e nada inerte evolui.
O tédio que engole, a inspiração que pira, o mundo se acabando e a gente se acostumando com o caos. A gente se acostuma mãe, com a dor, que nem chora mais.
Mesmo com o irmão assassinado,
Mesmo com a irmã presa sem motivo,
Mesmo com as mentiras da televisão,
Mesmo com a arma apontada na nossa cara.
A gente se acostuma e para de sentir dor, para de sonhar, para de querer, fica ali, adoecendo, apodrecendo igual água parada.
A gente amarga mãe, e não sai mais pra nada, nem praquilo que nos é de direito.
A gente se esquece mãe, e diz que nada vai mudar, o vento bate levando pra lá e pra cá, tudo fica morno coisa e tal, não há mais indignação e o escambau.
Não mandamos mais nada para a casa do caralho, nem dá mais vontade de falar palavrão. Nada mais faz bater o coração. E morremos.
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James Ratiere é estudante de Jornalismo e escritor nas horas vagas desde os 14 anos.