Que eu sou uma defensora do SUS todo mundo sabe. Andei até escrevendo um “diário” dos atendimentos que precisei há algum tempo atrás. Que eu peguei uma certa bronca do atendimento do Hospital Universitário Santa Terezinha – HUST – também já perceberam.
Pois bem: há uns 20 dias levei meu companheiro em plena crise hipertensiva e a reclamação de uma batida estranha no coração [batedeira]. Mesmo tendo tomado alguns comprimidos para tentar amenizar a pressão, chegou na Emergência com a pressão arterial bastante alterada. Foi logo medicado.
O que me fez sair intrigada de lá foi a manifestação da médica plantonista de que o resultado alterado do Eletrocardiograma era normal para a idade dele. Como assim? Se está alterado, lógico que não é tão normal assim!
Exigi que meu companheiro buscasse atendimento especializado. O Clínico Geral que o atendeu no ESF [postinho] não gostou muito de sua exigência e colocou no encaminhamento para o Cardiologista do Consórcio Intermunicipal de Saúde a ressalva: “A pedido do paciente…”. Direito dele pensar que meu companheiro não tem nada [?]. Obrigação é de encaminhar a pedido do paciente, ainda mais sendo de uma família de cardíacos…
O Cardiologista – que teve a consulta paga no valor de R$ 105,00, por ser do Consórcio – fez outro Eletrocardiograma e constatou a mesma alteração apresentada no atendimento do HUST. Algo não estava certo. Bom seria fazer um teste de esforço, mas este não existe pelo SUS, pelo menos não a curto prazo, que saibamos.
Marcado para o consultório particular, pago R$ 300,00 pelo teste, um pouco mais barato do que via “particular”. Nem bem saiu da bicleta, meu companheiro ouve o Cardiologista conversando com alguém do Hospital Angelina Caron, pedindo a marcação para breve de um Cateterismo, com possível Angioplastia. Caso de obstrução coronariana aguda.
Isto se deu no dia 27 de maio. Dia 03 de junho estávamos eu e ele na recepção do Hospital Angelina Caron que fica em Campina Grande do Sul, adiante de Curitiba, sentido São Paulo. Cateterismo pelo SUS.
Não vou mentir que o atendimento é rápido. Não é. Mas não vi um funcionário de cara amarrada. A manhã toda foi só para dar entrada na papelada. Almoço ganhamos os dois no refeitório onde médicos dividem espaço com funcionários e pacientes que estão na unidade, mas não internados efetivamente.
Período da tarde para a bateria de exames. Em praticamente todos a minha presença foi franqueada. Só me foi restrito o acesso ao último que era uma espécie de Ultrassonagrafia do coração – o Ecocardiograma.
Depois de tudo isso era esperar pelo dia seguinte, o do procedimento propriamente dito. Paciente que não tem onde pernoitar – casa de parente, amigou ou condição ou interesse de pagar hotel – fica num anexo do hospital. Acompanhante também [mas acho que daí era para casos especiais ou pagava uma taxa – não sei]. Optamos por um hotel, onde o conforto seria maior.
A ordem era para estarmos às 7:00hs para esperar pelo procedimento. Paciente em jejum. Levando em consideração que a média diária é de 30 a 40 procedimentos cardíacos por dia – sem falar das outras especialidades, inclusive transplantes e maternidade com UTI Neonatal – fomos informados que havia uma fila onde idosos e casos mais graves teriam prioridade.
Não éramos caso de vida ou morte. Ganhamos café da manhã, afinal os pacientes que iriam esperar não precisavam passar fome. Na hora do almoço a mesma coisa: os que tinham previsão de demorar mais tiveram o almoço garantido. Eu sempre ali, a esta altura já havíamos formado um grupo de amigos vindo de todos os lugares, inclusive MG e MS.
Final da tarde nos despedimos, a última leva de pacientes foi para o setor de pré-operatório. Só nos veríamos no outro dia. Aproveitei o tempo livre e atendi o pedido de doação de sangue. Uma unidade móvel do HEMEPAR estava fazendo coletas no pátio do Hospital.
Dormi no hotel e na manhã de quarta-feira fui buscar o meu “doentinho”. Fiquei com ele durante as últimas consultas. Todos os que tinham acompanhantes estavam sendo assistidos pelos seus. Enfermeiras se revezavam atendendo os demais.
Saímos de lá com o laudo do Cateterismo em mãos e a explicação do que deveria ser feito a partir daquele momento. No caso do meu companheiro nem stents e nem válvulas foram precisos. Ainda bem, pois a maioria não teve o mesmo destino. Houve quem ficou internado. É assim que funciona ali: a princípio o paciente entra para um simples Cateterismo, se no momento do procedimento se verifica a necessidade de algo mais, é feito na hora. Por isso a média diária oscilar entre 30 e 40 procedimentos.
Voltamos muito satisfeitos. Eu mais convicta ainda que os problemas do SUS não é do sistema e sim de gestão. Aquele hospital nem era tão grande assim, os espaços eram até reduzidos. Havia uma coisa que se percebia desde o primeiro momento: sincronia entres os funcionários e uma forma de gestão que está dando certo. O Angelina Caron é referência. Agora entendo o porquê.
E antes que venham dizer que Pronto Socorro é outra situação: lá também tem. Inclusive com heliponto para os atendimentos gravíssimos… Agora indo no popular e como um antigo amigo sempre me dizia: PRA MAU FODEDOR ATÉ OS CULHÕES ATRAPALHAM!! Simbora rever os atendimentos não só do HUST, mas da maioria esmagadora dos hospitais de Santa Catarina!!!!