Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
Ontem sentei ao seu lado, você estava dormindo. Passei minhas mãos em teu rosto, senti teu cabelo, te olhei de verdade e fiz o pedido mais difícil de toda minha vida. Hoje quis me guardar em mim. Não foi qualquer coisa. Era sobre a tua liberdade e a dela também. Você sabe de quem estou falando.
Não foi um pedido covarde, alguns chamariam de: “prova de amor”, é um chavão, tudo bem, foi o que eu consegui encontrar por hora.
Poxa, eu te procurei tanto nesses anos todos. Queria te ouvir como antes, vontade de viver coisas possíveis se tudo não tivesse mudado mas também, viver contigo aquilo tudo que mudou, se fosse exequível, claro que eu gostaria.
Eu te perdi um pouco por dia nesse tempo todo. Sigo te perdendo e a tormenta maior está em pensar na situação dela também. Sabes de quem eu falo não é mesmo?
É, eu sei que você sabe. Também entendo que não é proposital. Você não escolheu essa vida, escolheram por ti quando te deixaram sozinho no trabalho forçado enquanto enchiam seus corpos de comida farta e bebida alcoólica. Não teve outro jeito, fizeste o que qualquer ser humano responsável e preocupado faria.
Me caiu na lembrança aquela madrugada em que colocastes tuas mãos no meu rosto e me deste um beijo. Você não pensou que tua despedida se tornasse mais longa do que tua mente esperava. Esse tempo todo me mostrou que existem reminiscências que sempre me deixarão triste mas também, existirão aquelas que vão me fazer caminhar, um “passito” mais à frente não é mesmo?
Deu. Não quero mais falar sobre isso, você, nós. Deixa eu sofrer um pouco, sentir isso, eu preciso do meu silêncio também.
Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).
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