Para quem não está a par,“pogrons” eram ataques que turbas de racistas faziam contra aldeias ou bairros de população judaica. Comuns durante séculos, especialmente na Europa Oriental, mobilizavam bandos que saqueavam e destruíam casas e lojas de judeus, ferindo e até matando.
Por uma ironia do destino, os “pogrons” reviveram em Israel, na noite de quarta-feira da semana passada.Só que as vitimas de ontem foram os algozes.
Na região sul de Telaviv, uma multidão de mil pessoas atacaram e destruíram casas, carros e pequenos negócios de uma zona habitada por africanos, que vieram a Israel em busca de asilo. Feriram dezenas, felizmente não houve mortes.
Foram liderados e açulados por membros do Parlamento israelense: Michael Bem-Ari, Miri Regev e Danny Danon.
Bem-Ari é membro da União Nacional de extrema direita, que conclamou a turba a fazer justiça com as próprias mãos, afirmando que o “o tempo das palavras já passou”.
Ele pertenceu ao movimento ortodoxo, racista e fascista, Kach, fora da lei em Israel e considerado organização terrorista nos EUA.
A deputada Miri Egev é do Likud, partido do premier Netanyahu e chamou os imigrantes negros africanos de “câncer na sociedade israelense” – expressão muito usada pelos nazistas ao se referirem aos judeus na Alemanha.
Ela deve ter copiado o coronel Effi Eitan, que há poucos anos referiu-se aos árabes israelenses como “um câncer.”
Posteriormente, ela desculpou-se por mencionar o Holocausto e o câncer mas, somente às vítimas de um e aos doentes do outro. Manteve o que havia dito dos africanos.
Também do Likud é Danny Danon, que dirige um lobby que propõe como única solução para o problema dos africanos o seguinte: ‘’Precisamos expulsar os infiltrados de Israel. Não devemos ter medo de usar as palavras “expulsão já”.
Milhares de africanos da Eritreia e do Sudão Sul tem chegado a Israel, fugindo da extrema miséria, da fome, de governos opressivos e das barbaridades praticadas por bandos armados nos seus países.
Vem pela fronteiras com o Egito, trazido por grupos de indivíduos que os exploram ao máximo.
Em Israel, são cuidados por ONGs israelenses e pelo Alto Comissário de Refugiados da ONU. Onde ficam semanas e até meses, esperando que seus pedidos de asilo para poderem trabalhar sejam aprovados.
Muito antes disso, o governo os solta na estação central de Telaviv, sem dinheiro, sem agasalhos, sem nada. E que se virem até a decisão final sobre os pedidos deles.
A maioria vai viver nas zonas mais pobres de Telaviv.
Enquanto esperam alguns trabalham ilegalmente em funções tão humildes que os israelenses rejeitam. Outros pedem esmolas ou roubam.
Uns poucos abrem pequenos negócios.
Raros recebem licenças de trabalho. Segundo o 2011 Country Reports on Human Rights Practices: “dos 4,603 novos pedidos de asilo, 3,692 foram rejeitados.
Acabam concorrendo com os trabalhadores israelenses pobres, especialmente nas épocas de crise econômica, quando o desemprego aumenta.
Parece que isso está acontecendo agora.
A raiva contra a concorrência dos negros africanos, aos quais também se atribui um certo aumento no número de crimes, vem sendo estimulada.
Solidário com seus eleitores pobres, Netanyahu declarou que a onda de migrantes ameaça o “caráter judeu e democrático” do estado de Israel.
Novamente repetem-se considerações de líderes nazistas aplicadas contra os judeus.
Acho muito estranho esta insistência em preservar o caráter judeu do estado de Israel, ameaçado pela população negra africana.
Em primeiro lugar, porque significa um desejo de rejeitar as misturas com outras raças como algo maléfico, que prejudicaria a pureza da raça judaica.
Em segundo lugar porque sendo os africanos em Israel apenas 60 mil, representam 0,8% da população do país, sem condições, portanto, de modificar muito o quociente racial de Israel.
Bibi também condenou as violências” mas, depois de sua afirmação acima, essa condenação fica um tanto hipócrita.
No “pogron” de Telaviv, a multidão gritava coisas como: “fora com os negros”, “mande os sudaneses de volta para o Sudão”, enquanto outros, mais tranqüilos, limitavam-se a condenar “os esquerdistas de coração sangrento que trabalham para ajudar os negros.”
Não faziam mais do que ecoar ao apelo do Ministro do Interior, Eli Yishay: “Precisamos por todos esses infratores atrás das grades em centro de detenção, e os mandar para casa porque eles vieram para tomar empregos de israelenses.”
Seria a solução final para o problema dos africanos de Israel.
Voltando para a fome, a miséria, os massacres, as doenças epidêmicas e endêmicas e às torturas que os espera na Eritréia e no Sudão Sul, eles teriam destino semelhante ao dos judeus do holocausto.
É simples assim.