Nota dos Editores de www.odiario.info
A «declaração» do ministro das Finanças que precedeu a sua conferência de imprensa mereceu escassa atenção dos politólogos e analistas dos media de «referência». Enalteceram ou criticaram as medidas anunciadas, mas abstiveram-se de comentar o estilo do discurso.
Acontece que a oratória de Vitor Gaspar difere muito da costumeira nos políticos do PSD e do PS e da vacuidade pomposa cultivada pelo Primeiro-ministro. Surpreendeu.
Suave, bem-educado, por vezes insinuante, Gaspar fez lembrar pelo estilo o Salazar dos primeiros anos quando ministro das Finanças. Os tempos são outros e as personagens diferentes.
Mas, saindo da obscuridade, o novo ministro das Finanças deixou como Salazar transparecer uma capacidade superior à dos seus pares para a tarefa homérica e absurda de apresentar uma politica ultra reaccionária como a única opção possível no auge de uma crise devastadora.
Vitor Gaspar antecedeu a justificação e apologia do «memorando de entendimento» imposto a Portugal pela troika FMI-CE-BCE de um preâmbulo inesperado. Segundo ele, Portugal viveu 50 anos de êxito económico e social na segunda metade do século XX, período em que de pais rural se teria transformado num país desenvolvido. Faltou apenas o elogio directo àquilo a que chamam o Estado Novo. A fonte da sua inspiração terá sido o conceito de «revolução nacional» de Salazar? Para ele o desastre chegou após a bonança da época do fascismo.
Para ultrapassar a crise actual, somente enxerga uma saída: uma politica que transforme de alto a baixo a sociedade portuguesa. Ao actual governo caberia a grande missão de desencadear um terramoto económico e social. Situando-se nessa perspectiva afirmou, em resposta a uma pergunta embaraçosa, que Passos Coelho tinha em mente esse «esforço colossal» quando falou de «um desvio colossal».
Esse o estilo do ministro.
Sempre suave, lento, silabando as palavras, dialogante, confirmou e ampliou a cascata de privatizações anunciadas como feixe de medidas patrióticas, e, em piruetas estudadas, driblou as perguntas sobre os privilégios e isenções da banca e os lucros das grandes empresas e garantiu que do escancarar das portas ao capital estrangeiro resultarão imensos benefícios para o país. Quase prometeu um futuro esperançoso de crescimento a partir de2013.
Vitor Gaspar é apenas uma peça na política de traição nacional de um governo submisso a todas as exigências do capital financeiro e do imperialismo. Mais inteligente e preparado do que o Primeiro-ministro, cabe lhe desempenhar um papel importante. O estilo do seu discurso justifica reflexão. A ofensiva em marcha assume, como salientamos em Nota dos Editores ( 4.7.2011), as proporções de um « golpe de estado anti-constitucional».
Os elogios do presidente do Conselho Europeu ao «esforço» do Governo PSD-CDS durante a sua visita a Lisboa são significativos. As ditaduras de fachada democrática, com apoio parlamentar, não incomodam os grandes de Bruxelas e menos ainda a Casa Branca.
A maioria parlamentar está empenhada em ampliar as exigências da troika. A resposta a esse projecto ameaçador somente pode ser dada nas ruas e locais de trabalho pelas massas populares, mobilizadas contra ele.Está emcursoum ataque frontal contra todas as conquistas democráticas do npovo português.Cabe ao povo português defendê-las com a mesma determinaçao com que as alcançou.
OS EDITORES DE ODIÁRIO.INFO
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