O desfecho do julgamento do “mensalão” na última segunda-feira (13/11/2012) é prova disso.
A indignação com a corrupção, causa mui justa, foi transformada pela mídia – porta-voz das velhas elites conservadoras – em um espetáculo, tal e qual os combates entre gladiadores o era para os romanos. Pode-se entender perfeitamente esta indignação: a sociedade brasileira está com “sede de vingança” por conta de anos de impunidade. Nunca antes na história deste país a frase “Foi sempre assim…” – símbolo do conformismo com a situação política do país – foi tantas vezes proferida a cada novo episódio desta saga, que a grande mídia fazia questão de apresentar como uma batalha épica entre o bem e o mau, os mocinhos e os bandidos, os heróis e os vilões.
O caso do mensalão acabou servindo como “bode expiatório” para aplacar a ira do povo. A cobertura do caso fazia parecer que o problema da corrupção no Brasil chegaria ao fim só quando todos os envolvidos estivessem atrás das grades; não, mais: parecia que TODOS os problemas do Brasil chegariam ao fim só quando estivessem destruídos os “mensaleiros”, Lula, Dilma, o PT, e, quiçá, toda a esquerda brasileira.
A sentença dada sem nem mesmo ter provas deixa bem claro o caráter político do julgamento do mensalão. O que está em questão não é a ética, valores morais, a democracia, o bom funcionamento do Estado, etc., mas a disputa de interesses. O que está em jogo é a “ameaça PT” às velhas oligarquias que sempre utilizaram o Estado como meio e instrumento de atender as suas demandas. A forma como o processo foi conduzido deixa bem claro também que as velhas oligarquias não tem nenhum escrúpulo em escolher seus aliados: ontem os militares, hoje o STF. E, evidentemente, a grande mídia.
Curiosamente, aqueles que se mostram tão comprometidos com a luta contra a corrupção sequer mencionam outros casos semelhantes, ou até mais graves que o mensalão. A justiça não deve ser imparcial? A mídia não prega o “jornalismo imparcial”? Então, por que os desdobramentos do “caso mensalão” favorecem os interesses de um grupo enquanto desqualifica e prejudica outro? Como que, de repente, grupos de comunicação e outros setores da sociedade vestem a camisa de “defensores da democracia”, sendo que anteriormente se posicionaram e trabalharam a favor do regime que desprezou e subjugou a democracia?
Não admira que o conservadorismo tenha aumentado nos últimos anos, e conquistado cada vez mais adeptos. Além de toda a construção feita pela mídia, não podemos também negar a parcela de culpa dos acusados. Se o partido que outrora representava a alternativa á tudo o que havia de torpe na política brasileira passa a se valer das mesmas estratégias que os demais partidos de direita, que fazer? Certamente, se houvessem provas para tornar mais concretas nossas especulações, a resposta seria mais clara. Por enquanto, apenas cito a cena final de “A revolução dos bichos”, de George Orwell, na qual suínos e humanos já não se distinguiam mais.
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