Um ano de Temer: desemprego em alta e crescimento pífio

Em discurso na sexta (12), data em que a gestão Temer comemora um ano, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles defendeu que, neste período, o governo conseguiu restabelecer a confiança na economia e que o país já voltou a crescer.  Os indicadores econômicos, contudo, mostram um cenário menos animador. Nesses 365 dias, o desemprego aumentou, saindo de 11,2% para 13,7%. E dados recém divulgados pelo IBGE não ensejam otimismo.

O setor de serviços teve queda de 2,3% de fevereiro para março, na maior queda da série, iniciada em 2012. No mesmo período, a produção industrial recuou 1,8% e as vendas do comércio varejista, 1,9%, no pior resultado em 14 anos. Os dados negativos dizem muito sobre os rumos do país, como bem externou Temer, em seu primeiro discurso como presidente, em 12 de maio de 2016. “O emprego, sabemos todos, é um bem fundamental para os brasileiros. O cidadão, entretanto, só terá emprego se a indústria, o comércio e as atividades de serviço, estiverem todas caminhando bem”, declarou, na ocasião.

E, se a princípio o “mercado” projetava um avanço de 1,38% da economia em 2017, atualmente, a expectativa é de 0,47% de crescimento do Produto interno Bruto (PIB). Em 2016, a economia teve recuo de 3,6%, que se somou ao tombo de 3,8% em 2015.

Reformas impopulares e a fada da confiança

Para o professor-doutor e coordenador do programa de estudos pós-graduados em economia política da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda, as duas principais apostas de Temer para a economia – as reformas e o resgate da confiança – não deram resultado. “Na economia, o governo centrou seu foco em duas frentes. A primeira é a tentativa de aprovação das reformas – a previdenciária, a trabalhista. E, embora conte com amplo apoio da mídia, no Congresso e no Judiciário, o fato é que ele não debateu essas propostas com a sociedade. Então ele vive uma grande incompatibilidade entre um certo trânsito que tem com esses setores citados e uma baixíssima popularidade, de apenas 4%”, disse Lacerda.

Segundo ele, mesmo que o presidente consiga aprovar as reformas, terá enorme dificuldade de implementá-las de fato, uma vez que não foram negociadas com os atores sociais e, portanto, deve haver muita resistência. “A segunda frente em que eles apostaram foi a tentativa do resgate da chamada confiança, a fé em que implementar medidas ortodoxas – como manter juros altos e restringir gastos, especialmente investimentos – recuperaria a confiança na economia. Mas isso não funciona em nenhum lugar do mundo”, afirmou.

O professor lembrou o prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, que cunhou a expressão “fada da confiança”, ironizando a ideia de que medidas de austeridade resgatam a confiança na economia, estimulando, assim, a atividade. “Ou seja, é acreditar que você faz os ajustes e, com isso, a economia, os empresários, os consumidores retomam a confiança e, com isso, a economia volta a andar. Não é assim que funciona”, reiterou Lacerda.

Na sua avaliação, falta ao governo Temer uma “agenda econômica mais ampla”, que contemple ampliação do crédito e do financiamento, crescimento dos investimentos públicos e a implementação de uma política industrial.  A ausência dessas medidas reflete-se no PIB, indicou. “Depois de dois anos de queda, você praticamente não vai ter crescimento esse ano. Há uma recuperação cíclica, porém, muito incipiente. Porque você tem uma restrição muito grande de crédito. O mercado de crédito está travado, porque os juros são altos e porque os bancos têm grande desconfiança em emprestar ao setor privado e aos consumidores, principalmente porque são altamente remunerados emprestando para o governo”, avaliou.

Apesar da recente queda da Selic, o juro real (descontada a inflação) no Brasil permanece muito alto, o maior do mundo, recorda o professor. De acordo com Lacerda, o que poderia compensar a falta de crédito concedido pelos bancos privados seria uma ação efetiva dos bancos públicos, o que não é uma diretriz do atual governo, pelo contrário. “O BNDES e outros bancos públicos encontram-se restringidos na sua capacidade de emprestar. O resultado de tudo isso é aumento do desemprego e um crescimento ainda muito tímido”, apontou.

Inflação em queda: a que preço?

No discurso desta sexta, Meirelles acrescentou à lista de conquistas da atual gestão a queda da inflação. Segundo o professor Lacerda, no entanto, a redução está mais relacionada a outros fatores.  “Tem muito a ver com três questões: a recessão brutal que a economia vive – não há espaço para repasse de preços; a safra, que vai muito bem por fatores climáticos; e a taxa de câmbio que se valorizou em relação a um ano atrás – o câmbio estava perto de R$4 e hoje está em R$3,20”. Para o economista, no entanto, nenhum desses três fatores pode ser considerado uma conquista permanente, nem decorrente exclusivamente da política monetária. “Não é que o Banco Central foi conservador e a inflação caiu. É também por isso, mas não só, e a um custo social e econômico muito alto”, destacou.

Contradição nos gastos públicos

A equipe econômica de Temer tem se esforçado para casar o discurso da austeridade fiscal com deficits históricos, priorizando o que chama de um ajuste estrutural de longo prazo. Nesta sexta, Meirelles celebrou o fato de o governo ter apresentado uma meta de deficit primário de R$ 170 bilhões para 2016 e conseguido entregar um resultado R$ 16 bilhões abaixo do estimado – mas que, apesar disso, representou um rombo sem precedentes nas contas do país.

Sem investir em medidas para aumentar a arrecadação, o governo anunciou que o alvo seria o corte de gastos. Mas o equilíbrio fiscal prometido pela gestão, até então, não veio. “Os gastos não caíram, até porque não é tão fácil diminuir, já que a máquina continua funcionando. O único item que foi de fato restrito, seja pela PEC do teto, seja pelas circunstâncias, são os investimentos, que é o que menos deveria cair”, condena Lacerda.

De acordo com ele, em períodos de crise, como o atual, o governo deveria fazer justamente o contrário: ampliar os investimentos públicos, como forma de reaquecer a economia. “Você tem uma grande contradição nos gastos públicos, que é a continuidade do aumento de gastos gerais, mas com restrição do investimento, que deveria ser justamente o item que mais deveria crescer diante de uma crise, porque o Estado tem um papel anticíclico na economia”, criticou.

O professor não é otimista com relação ao que se delineia no horizonte para os trabalhadores brasileiros. “Você tem uma política macroeconômica desfavorável ao crescimento da economia, que seria um motivo para a expansão de emprego. Além disso, não há medidas tópicas, como uma política industrial e de financiamento, que revertam esse quadro. Então a tendência é o desemprego continuar aumentando. Isso só poderá melhorar com uma recuperação da economia, que não deve vir esse ano”, encerrou.

Fonte: Portal Vermelho. 

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