Com mesma estrutura há 30 anos, curso da UFSC apresenta dificuldades.
O curso de Odontologia da UFSC figura entre os que foram classificadas como cinco estrelas pelo Guia do Estudante da Editora Abril. Além disso, tem conceito quatro no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), prova que avalia o rendimento dos alunos nos cursos de graduação. Mas esses méritos não se retém no setor de esterilização e nem nas clínicas onde os alunos atendem a comunidade e aprendem a fazer os procedimentos odontológicos. No segundo semestre de 2011 a Vigilância em Saúde do município ameaçou fechar o setor devido às irregularidades que foram encontradas após uma denúncia. “Algumas das exigências já foram atendidas, mas precisamos de uma reforma no setor para nos adequar a todos os parâmetros. O prédio tem trinta anos, foi construído conforme os requisitos da época, mas o ideal seria um edifício novo” explica o chefe do Departamento de Odontologia, Alfredo Meyer Filho. Segundo o diretor do Departamento de Projetos de Arquitetura e Engenharia, Elias Sebastião de Andrade, a proposta de novas instalações para o curso está em fase de estudo de viabilidade e ainda não existe nenhum prazo para início das obras. Andrade informa que antes de iniciar uma obra é necessário avaliar a ocupação do campus de acordo com
O Plano Diretor da UFSC, levando em consideração aspectos como água, energia elétrica e esgoto. Enquanto as mudanças não são feitas, os alunos precisam lavar seu instrumental em um espaço de 12m² que conta com nove pias. Nos horários de pico, de 11h a 11h30 e 17h a 17h30, quando há um grande número de estudantes encerrando seus atendimentos, o espaço é insuficiente. Alguns acabam se ferindo por terem que limpar o material com mais rapidez. “Tem gente que nem lava no dia, deixa sujo e só vai esterilizar quando for usar de novo” relata a estudante Michelli Cássia dos Santos.
Existem duas clínicas, cada uma possui 59 equipamentos, mas apenas 53 funcionam. Esse material é o mesmo desde 1982. “Eu me formei aqui e, quando fiz o curso, usei esses mesmos equipamentos” lembra Graziela de Luca Canto, professora desde 1992 e coordenadora do Curso de Odontologia. Por serem tão antigos, não existem peças para reposição quando esses equipamentos quebram. A estimativa é que mensalmente sejam realizados entre oito e dez mil atendimentos, sendo que um mesmo paciente pode ser atendido mais de uma vez no mesmo mês. Se a situação permanecer, a tendência é que esse número diminua.
Para o professor do curso Eduardo Bortoluzzi, as condições atuais não afetam a qualidade do aprendizado e das atividades realizadas. “As instalações são antigas, os re?etores às vezes estão fracos, o sugador entope, isso atrasa os procedimentos. Nós atendemos com qualidade, mas com materiais mais modernos poderíamos atender mais gente e melhor”, salienta. Nas clínicas, há paredes marcadas pela umidade. Quando chove, aparecem goteiras. Portas e armários onde os alunos guardam todo o instrumental estão com cupim – uma dedetização foi feita para tentar sanar o problema. Meyer Filho encaminhou para a reitoria um documento relatando os problemas e as melhorias que o setor necessita, mas até agora nenhum retorno foi dado.
Formação custa caro
Todos os serviços prestados são gratuitos, com exceção das próteses, que são cobradas. O paciente Pio Körbes, de São João do Oeste, ficou sabendo das Clínicas através da irmã enfermeira: “Tenho cinco implantes, todos feitos aqui. Sempre fui bem atendido e hoje venho fazer o acompanhamento”. Dos quase dez mil atendimentos realizados por mês nas clínicas odontológicas do Centro de Ciências da Saúde, o tratamento de canal está entre os mais realizados. Apesar da gratuidade para os pacientes, os equipamentos utilizados pelos alunos não são. Para cada disciplina existem itens que precisam ser comprados. “Na quinta e na sexta fase, gastei R$ 5 mil em cada; somando o que gastei nas outras, foram 15mil. Nossa! Já foi um carro!”, surpreende-se a aluna Gabriela Viera dos Santos. A coordenadora do curso de Odontologia, Graziela de Luca Canto, estima que durante o curso sejam gastos cerca de R$ 22 mil.
Quem não tem condições para adquirir os itens pode entrar com um pedido junto à Coordenadoria de Serviço Social. Para isso é necessário fazer um cadastro sócio–econômico e comprovar a renda. “Tenho uma amiga que recebe esse benefício. O problema é que o material fornecido nem sempre é o de melhor qualidade e nem sempre tem tudo o que está na lista, ou demora para chegar. Mas ajuda bastante”, observa Santos. Para a compra de materiais, a Universidade utiliza o processo de licitação, na qual ganha o menor preço e não necessariamente o melhor produto. “Já tivemos casos em que a qualidade do gesso era tão baixa que quando a prótese ficou pronta não encaixou no paciente porque o molde ficou irregular”, lamenta o professor Eduardo Bortoluzzi.
A Universidade é responsável por fornecer o material. Luvas e máscaras são alguns dos itens da lista, porém só os professores têm disponível, os alunos precisam levar os seus. Santos reclama que até detergente e papel toalha os alunos compram: “Se não tivermos, não há como limpar os instrumentos”. Por atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), o Departamento recebe por mês R$ 25 mil da Secretaria de Estado da Saúde, valor destinado para o pagamento de empresas terceirizadas responsáveis pela manutenção de alguns equipamentos. O valor é baseado na média dos procedimentos realizados. “O problema é que não temos como saber esse número exato. Um paciente pode ser atendido várias vezes e ter feito só um procedimento”, acrescenta o chefe do Departamento, Meyer Filho.
Fonte: Jornal Zero. Edição de julho.