UFSC em Emergência: Violência de gênero, abandono Institucional e a luta por um Campus seguro. Por Lumen Freitas

O campus carece dos requisitos mínimos para garantir a integridade física de estudantes e trabalhadoras.

Foto: Helio Rodack

Por Lumen Freitas (@lumenpink)
19/3/25

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), reconhecida como uma das melhores instituições de ensino do país, enfrenta uma crise gravíssima de segurança pública, marcada por casos recorrentes de assédio, violência sexual e estupros contra mulheres. Essa realidade é agravada por uma combinação perversa de negligência estrutural, omissão administrativa e descaso com a vida das vítimas.

Infraestrutura que facilita a violência

O campus carece dos requisitos mínimos para garantir a integridade física de estudantes e trabalhadoras. A iluminação precária, a ausência de monitoramento por câmeras e a escassa presença de agentes de segurança criam zonas de vulnerabilidade, especialmente em áreas com construções abandonadas e pontos de passagem com visibilidade obstruída. A arquitetura do espaço – com becos, corredores isolados e estruturas deterioradas – parece ignorar (ou até incentivar) a sensação de insegurança. Não se trata de mero descuido: é uma falha sistêmica que coloca corpos em risco.

Cultura de Impunidade e Inação

Denúncias contra homens externos à universidade, alunos e até professores se acumulam há anos, mas a Reitoria responde com silêncio e inércia (ou seria inépcia?). A escalada da violência é evidente: de assédios verbais e agressões físicas, como puxões e perseguições, chegou-se ao ápice com a tentativa de estupro ocorrida nesta semana. Enquanto isso, a administração universitária trata o tema como “casos isolados”, ignorando o padrão de violência de gênero que permeia o cotidiano do campus.

Consequências da Negligência

A insegurança já altera drasticamente a vida acadêmica. Mulheres estão trancando matrículas, solicitando afastamento temporário ou exigindo participação remota para evitar riscos. Não se trata de “medo abstrato”: é uma estratégia de sobrevivência em um ambiente que deveria ser de acolhimento. A mensagem é clara: a universidade está falhando em cumprir seu papel de garantir acesso igualitário à educação.

Manifestação por Direitos Básicos

Diante da urgência, coletivos feministas e entidades estudantis convocam um ato público na sexta-feira, 21 de março de 2025, às 13h, em frente à Reitoria da UFSC. A pauta é simples e não negociável: exigir um plano concreto de segurança, com iluminação emergencial, ampliação do monitoramento eletrônico, rondas frequentes e a revitalização de áreas abandonadas. A presença de toda a comunidade é fundamental para pressionar por respostas.

Perguntas que a UFSC Precisa Enfrentar

1. A quem interessa manter o campus como território hostil para mulheres, pessoas LGBTQIA+, negras, indígenas e PCDs? A violência não é aleatória: é uma ferramenta de exclusão que reforça hierarquias sociais e silencia vozes dissidentes.
2. Qual o projeto por trás do sucateamento da segurança e do ensino público? A degradação da UFSC não é acidental. Enfraquecer uma instituição de excelência significa atacar o direito à educação crítica e plural – um passo rumo ao retrocesso social.

Da Dor à Resistência

O campus da UFSC, outrora símbolo de produção intelectual, hoje é palco de terror institucionalizado. Não basta lamentar: é preciso agir. Participar da manifestação não é apenas um ato político, mas um compromisso coletivo com a existência digna de todas as pessoas no espaço universitário. A segurança não é um privilégio – é um direito. E até que ele seja garantido, a luta seguirá ininterrupta.

Lumen Freitas é Major da Polícia Militar de Santa Catarina. Travesti. Formada em engenharia de redes, compliance e segurança da informação. Bacharel em direito e apresentadora da coluna Segurança Pública, no Portal Desacato.

 

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