O Conselho Universitário (Consun) da UFRGS aprovou a concessão do título de Doutor Honoris Causa para o artista Gilberto Gil. A decisão considerou o currículo impressionante e a importância histórica de Gil, além de seu amplo reconhecimento, nacional e internacionalmente, pelas atividades artísticas, políticas e intelectuais. O Conselho considerou, ainda, a notória postura ética do artista em defesa da democracia e da diferença em diversos níveis e espaços.
A proposta foi elaborada pelo Departamento de Antropologia e encaminhada ao Consun pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). A entrega do título ainda não tem data para ocorrer.
O parecer do Consun aborda a história de Gilberto Passos Gil Moreira, nascido em Salvador, em 26 de junho de 1942, destacando o início de sua carreira artística, seus primeiros trabalhos em disco e a graduação pela Universidade Federal da Bahia. O texto salienta, ainda, a ida do músico na década de 1960, juntamente com Caetano Veloso, Maria Bethânia, Tom Zé e Gal Costa, para São Paulo e para o Rio de Janeiro, onde participou dos principais festivais de música da época.
Além de álbuns coletivos e de trilhas sonoras que compôs, Gil gravou 17 LPs e 9 CDs de estúdio e teve número equivalente de gravações ao vivo, sem contar as centenas de shows que realizou em diversos países. “Gilberto Gil utilizou a canção popular como veículo privilegiado para difundir protestos, inquietações e reflexões de abrangência intelectual incomum. Sua poesia e seus posicionamentos públicos foram exemplares, ao longo de todos esses anos, na defesa da democracia, da diversidade e das diferenças”, aponta o parecer.
O texto destaca ainda a liderança do artista na Tropicália e suas atitudes corajosas na produção de vanguarda no momento mais duro da ditadura civil-militar, que resultou na sua prisão e exílio em 1968. “Em vez de calar-se, o músico continuou suas atividades nos anos seguintes, denunciando, no exterior, aquilo que se passava no Brasil” sustenta o parecer, que segue abordando a carreira política de Gilberto Gil, como gestor da cultura e administrador público, com destaque para o cargo de ministro da Cultura, no primeiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Nos cinco anos em que geriu o MinC, de 2003 a 2008, Gil foi responsável pela concepção e implementação de diversas políticas públicas para a promoção da diversidade artística, cultural e étnica, como o Sistema Nacional de Cultura, a reformulação da Lei Rouanet, o Plano Nacional de Cultura, o Vale-Cultura e especialmente o Programa Cultura Viva – Pontos de Cultura. “Sua maior contribuição para a política cultural brasileira está na reformulação radical do próprio objeto e do âmbito de atuação da mesma, uma vez que Gil trocou a noção elitista e restrita de cultura que marcara o ministério até aquele momento, por uma definição mais ampla do termo, tomada de empréstimo, exatamente, da Antropologia.”, aponta o parecer.
Gil acumula uma série de distinções nacionais e internacionais como: a Ordre de Arts et de Letttres (1990) e a Légion d´honneur do governo francês (2005); a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, do governo português (2005); algumas das maiores honrarias concedidas pelo Estado brasileiro, tais como a comenda da Ordem de Rio Branco (1990), a Ordem Nacional do Mérito (1997) e a Ordem do Mérito Cultural (1999); além de diversos prêmios musicais e títulos conferidos pela Unesco, tais como Artista pela Paz (1999) e Embaixador da Boa Vontade da FAO (2001). Gilberto Gil também é membro da Academia Brasileira de Letras desde 2022.
Em 2014, no âmbito das comemorações dos 80 anos da UFRGS, o artista proferiu uma “aula-espetáculo” no Salão de Atos da Universidade. Gilberto Gil fez do Salão de Atos da UFRGS “o melhor lugar do mundo” naquela noite memorável de 4 de maio.