UE Mercosul e o acordo assinado por Lula, Milei, etc. Sou contra, por 10 motivos. Por Flávio Carvalho

Liberdade pro capital circular do país mais pobre ao mais rico, principalmente, explorando trabalhadores nos países mais necessitados e exportando lucro aos que já acumulam mais riquezas

Imagem: Collage com fotos de AFP

Por Flávio Carvalho, Barcelona.

10 de dezembro de 2024. Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Graças à persistência e prestígio do presidente Lula, finalmente selamos o Acordo Mercosul/União Europeia, que promete muitos ganhos para a nossa economia, em especial, no Agro.” (Líder do PT no Senado, Beto Faro, hoje, 10 de dezembro de 2024).

Atenção! No “Agro”…

O Acordo ainda depende da aprovação de 15 dos 27 parlamentos dos membros da União Europeia, o que não deverá ser problema pois somente França, Itália, Polônia e Países Baixos ainda se opõem” (Idem)

Atenção! “Nenhum problema”. Só esses 4 países pequenininhos: França, Itália, Polônia e Países Baixos…

Ai, ai.

Porque sou contra.

1. Por necessidade imperativa de recorrer à ciência política, clássica. Livre Comércio, apesar de conter a bonita palavra Liberdade, não significa nada mais que Liberalismo, o conceito econômico preferido dos capitalistas. Quanto mais agressivo (selvagem), melhor (para eles). Liberdade pro capital circular do país mais pobre ao mais rico, principalmente, explorando trabalhadores nos países mais necessitados e exportando lucro aos que já acumulam mais riquezas.

2. Por assimetria, como princípio. Um dos conceitos básicos de toda e qualquer negociação entre diferentes é que um não esteja oprimindo (matando o outro de fome). Nada que começa em situação de desigualdade terá mais probabilidade de promover justiça social.

3. Por obrigatoriedade de ler (ou reescrever) os livros de história. O ex-ministro das relações exteriores do Brasil, Celso Amorim, com muita experiência nisso, chegou a chamar essa negociação de Colonialista. Se o Amorim, diplomático, falou isso… Quem conhece a história do colonialismo europeu sempre estará coberto de razoes ao, no mínimo, desconfiar de toda oferta de livre comércio com os políticos europeus. A velha política que não representa nada mais que o poder econômico, neocolonialista, do velho continente.

4. Pelo sigilo em que o acordo foi construído. O que é bom se revela aos povos. Se fosse bom, não se esconderia. Qualquer pequeno agricultor compreende isso.

5. Pela desgraça que pode representar assinar algo sem consulta pública, já que impacta diretamente sobre a base econômica do nosso país: a agricultura, por exemplo. Não é um mero “detalhe”.

6. Pela oportunidade histórica de haver sido “finalizado” (não se pode dar por acabado, pois faltam inúmeros e complexos trâmites de ratificação) num cenário governamental brasileiro de assédio de direita, por todos os lados: centrão, frente ampla incluindo a direita dentro do governo, imprensa golpista, mercado especulativo, pacote de austeridade nos gastos públicos, ameaça nazifascista, etc.

7. Pelo acordo não apostar na resistência e escuta ativa junto aos movimentos sociais (brasileiros e internacionais) que acumulam décadas de protestos, análises críticas, manifestos, jornadas de debates e vários atos de oposição, tanto ao acordo, quanto ao seu processo de negociação.

8. Pela evidência científica, antinegacionista, de que o Planeta Terra necessita de menos Livre Comércio e de mais Estados firmes e fortes na defesa e no apoio às comunidades tradicionais, na luta contra o crescimento desenfreado do capitalismo devastador, no fortalecimento do consumo consciente de proximidade, na agricultura de base familiar, enfim.

9. Porque o acordo, propositadamente, não fala da maior desgraça causada pelo colonialismo europeu em séculos de destruição: só a Reforma Agrária começaria a desfazer o mal das Capitanias Hereditárias e só a Reparação Histórica apontaria para o genocídio dos povos tradicionais da Abya Yala, sem falar da dívida atual e presente com o sequestro de milhões de africanos escravizados.

10. Porque cada vez que conhecemos, aos poucos, carregados de complexidades, vários termos técnicos e inúmeras páginas repletas de intenções, mais vamos percebendo as razões deste acordo ter sido negociado de costas (em segredo) a quem mais nos interessa (e em benefício de quem SEMPRE lucrou às nossas custas).

Por isso, convidamos a acessar os três links abaixo (dois deles, os primeiros, muito recentes), agora que, aos poucos, o segredo vai se revelando aos olhos de quem o merece.

O primeiro, este, é a publicação sobre o histórico de negociações, publicado pela Agência Brasileira de Comunicação.

https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202412/confira-o-historico-das-negociacoes-e-os-proximos-passos-do-acordo-mercosul-e-ue

O segundo, é o tal acordo, publicado pelo Palácio do Planalto.

https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2024/12/factsheet-acordo-de-parceria-mercosul-uniao-europeia

O terceiro, permite a quem quiser conferir o que mudou tal como foi proposto por Bolsonazi, e agora, assinado por Lula (que insiste em afirmar que “melhorou”, pois desvantagens teriam sido “sanadas” na mais recente versão).

https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2019/texto-do-acordo-mercosul-uniao-europeia

Melhorou? Sim? Mesmo? Em quê?

Aquele abraço.

Eu vejo o campo de vocês ficar infértil

Num tempo um tanto longe ainda, mas não muito

E eu vejo a terra de vocês restar estéril

Num tempo cada vez mais perto, e lhes pergunto

O que será que os seus filhos acharão de

Vocês diante de um legado tão nefasto

Vocês que fazem das fazendas hoje um grande

Deserto verde só de soja, cana ou pasto?”

(Chico César)

@1flaviocarvalho. Sociólogo. Ex Consultor da FAO. Trabalhou como assessor da FETAPE, da CONTAG, como Educador da CUT e de diversos encontros do MST Pernambuco.

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