Segundo os dados divulgados, dia 5, pelo Eurostat, 124,5 milhões de pessoas, quase um quarto da população na União Europeia, enfrentavam em 2012 pelo menos uma das seguintes formas de exclusão: risco de pobreza (indivíduos que vivem em agregados com um rendimento abaixo do limiar da pobreza), situação de privação material severa ou pertença a agregados com muito baixa intensidade laboral.
Ora, um dos objectivos proclamados da «Estratégia 2020», aprovada em 2010, era precisamente arrancar da pobreza uma em cada seis pessoas nesta situação. A tendência que se observa vai em sentido inverso.
Na verdade, os números oficiais indicam que a percentagem de pessoas tocadas pela pobreza passou de 23,7 por cento da população na UE em 2008, para 24,8 por cento em 2012.
Este flagelo aumentou em 17 dos 28 estados-membros. No ano passado, os países com maior incidência de pobreza e exclusão social eram a Bulgária (49%), a Roménia (42%), a Letónia (37%) e a Grécia (35%).
Do lado oposto estavam a Holanda e a República Checa (ambos com 15%), a Finlândia (17%), a Suécia e o Luxemburgo (ambos com 18%).
A crise do capitalismo e as correspondentes políticas de austeridade tiveram um reflexo directo na escalada da pobreza. Assim, a subjugação da Grécia às draconianas políticas da troika traduziu-se num aumento exponencial da tragédia humanitária. Se em 2008 a percentagem da população em risco de pobreza era de 28,1 por cento, em 2011 já havia 31 por cento, nível que atingiu os 34,6 por cento no ano passado.
Também em Espanha, onde se assistiu nos últimos anos ao disparo do desemprego, o risco de pobreza subiu de 24,5 por cento em 2008 para 28,2 por cento em 2012, atingindo 13,1 milhões de pessoas.
Na Itália, a pobreza também alastrou afectando quase um terço da população (29,9%), cerca de 18,2 milhões de pessoas, contra 25,3 por cento em 2008.
Uma realidade mal conhecida
No nosso País, de acordo com os dados do Eurostat, mais de um quarto da população (25,3%) encontrava-se em risco de pobreza ou de exclusão social em 2012, tendo subido quase um ponto percentual em relação a 2011.
Ao todo, o número de residentes em Portugal em risco de pobreza ou exclusão social elevou-se para 2,7 milhões. Porém, apesar da sua gravidade, os números do Eurostat podem estar longe de reflectir a realidade.
Esta é pelo menos a opinião de Bruto da Costa que, em declarações à Agência Lusa, considerou «insatisfatórios» os dados do Eurostat relativos a Portugal.
O especialista em questões de pobreza explicou que o País está «numa situação anormal» e a amostra utilizada nos inquéritos do Eurostat «pode não captar a realidade actual que, por exemplo, tem um peso de desempregados que nunca teve nos últimos anos».
Segundo observou Bruto da Costa, os inquéritos do Eurostat apenas incluem pessoas que vivem em agregados familiares, não abrangendo quem está em instituições.
«Toda a pobreza que existe em lares para idosos, por exemplo, que é uma grande bolsa de pobreza, não é apanhada por este inquérito, nem nunca foi», exemplificou.
Por outro lado, «há pensionistas que repartem a sua pensão com os filhos e os netos» situação que também não é reflectida nas estatísticas europeias.
Deste modo, para se ter «uma ideia real daquilo que é neste momento a situação portuguesa em relação à pobreza» é necessário realizar um «inquérito específico», defendeu o especialista referindo que nos contactos que mantém com instituições estas dizem que «a situação é extremamente grave».
Além do número de pessoas que pedem ajuda ser muito elevado e das instituições não conseguirem responder a todos os pedidos, o tipo de problemas também é diferente: «Pedem ajuda para pagar rendas de casa e pedem emprego».
Fonte: Diário Liberdade.