RAI cancelou transmissão do programa após 25 anos por não promover imagem positiva da mulher
Um dos programas mais antigos da televisão italiana, o concurso de beleza que elege anualmente a “Miss Itália”, realizado no fim do mês de outubro, tem gerado forte polêmica em razão da recente decisão da rede pública nacional RAI de não mais transmiti-lo. As razões alegadas pela presidente do grupo estatal, Anna Maria Tarantola, são de que o evento, realizado desde 1939 e que já revelou nomes como Sophia Loren, não é de interesse público nem, tampouco, contribui para promover a imagem da mulher.
A RAI transmitia o evento desde 1988, há 25 anos. A menos de um mês de sua realização, em 28 de outubro, o canal privado LA7, a antiga Tele Monte Carlo, comprou os direitos e salvou a edição do concurso.
Segundo a Tarantola, que teve sua decisão apoiada pela maioria da direção da rede, a decisão foi tomada tanto por razões econômicas quanto éticas.
“Consideramos – no que estou de pleno acordo – que o Miss Itália não é um programa que valoriza o talento da mulher”, disse Tarantola. “Não se trata absolutamente de demonizar a beleza. Beleza é ótimo, é um aspecto positivo, mas não pode se tornar a única razão pela qual uma mulher tenha a chance de fazer seu nome”.
Segundo a dirigente, a mulher deve merecer reconhecimento em razão de outros talentos, tendo oportunidade para expressar suas capacidades. “Em minha opinião, a televisão pública não deve passar a mensagem de que você só pode ser alguém se for bonita. Não, você pode se tornar alguém se for comprometida, se souber como valorizar seu próprio talento, realçá-lo e cultivá-lo. E se ainda você for bonita, tanto melhor”.
Tarantola foi executiva do Banco da Itália por 41 anos e há tempos é ativista em prol de ações afirmativas em favor das mulheres. Ela foi apontada para a direção da TV pelo ex-primeiro-ministro Mario Monti e, desde então tem procurado adequar a programação da rede de uma forma mais respeitosa ao público feminino. O próximo passo, segundo ela, é a realização de um programa de teledramaturgia focado no tema da violência doméstica.
A figura austera de Tarantola destoa da do ex-premiê Silvio Berlusconi, dono de três dos principais canais de TV privados da Itália, que investem muito em programas com assistentes de palco e dançarinas – e que é casado desde o fim do ano passado com a ex-showgirl Francesca Pascale. Ela se tornou famosa por ter participado de um programa de TV em que cantava uma música popular com uma frase que ficou famosa na TV italiana – algo como “quando você mostra um pouquinho da coxa, a audiência dispara”.
Por sua vez, a organizadora do concurso, Patrizia Mirigiliani, afirmou, na ocasião em que fechou o contrato de transmissão com a LA7 criticou a decisão da RAI e disse ter se sentido atacada e ofendida. “Saber que nosso espetáculo não defende o mundo das mulheres me feriu profundamente”. Suas principais críticas foram para a RAI: “Trabalhamos 25 anos juntos e fomos expulsos sem motivo. Nos disseram que queriam mudar a imagem da RAI e o símbolo dessa mudança seria o rompimento com o Miss Itália. Mas a RAI não mudou nada”, protestou.
Fonte: Opera Mundi