Turbulência à vista. Por Leandro Monerato.

Um acirramento da luta de classes torna-se inevitável diante o cenário de colapso inédito.

Por Leandro Monerato.

O BIS (Banco de Compensações Internacionais) é uma organização com sede na Basileia, Suíça, cuja missão é unificar os bancos centrais dos países participantes. No dia 25 de junho, o BIS publicou seu Annual Economic Report onde apresenta um balanço e propõe uma política geral para os bancos centrais. Agustín Carstens o seu atual presidente disse em seu discurso “A time for resolve and realism” com “a economia global em um momento crítico, é hora de políticas resolutas e realistas.”

Vejamos o que nos revela o presidente do BIS dos planos imperialistas.

A primeira é a constatação de que uma era se encerra. A era da inflação baixa acabou. “A era do “baixo por muito tempo” chegou ao fim, com os bancos centrais a iniciarem a maior e mais sincronizada contração das políticas desde, pelo menos, a década de 1970. Ao fazê-lo, proporcionaram uma contenção monetária coletiva que foi mais do que a soma das suas partes”, disse Carstens. A turbulência à vista é a conclusão do BIS.

Embora de modo cínico oponha o desejo à realidade “Perante este cenário, começa a surgir a sensação de que a economia mundial poderá vir a ter uma aterragem suave, ou quase suave. Todos esperamos que isso aconteça. Mas temos de estar preparados para enfrentar os riscos significativos que se colocam no caminho. Entre esses riscos, a inflação persistentemente elevada e a instabilidade financeira são os dois mais susceptíveis de desencadear um período prolongado de crescimento abaixo da média, ou mesmo uma recessão.”

Aumento crescente dos preços ao mesmo tempo que a economia diminui. Isso após quarenta anos de neoliberalismo que vem destruindo forças produtivas a um nível nunca antes visto. Ninguém aguenta mais. E o próprio BIS tem consciência disso:

“A inflação elevada poderá persistir. Para além das pressões inflacionistas já existentes no sistema, poderão surgir novas pressões. Relativamente a estas últimas, os mercados de trabalho parecem ser um ponto de inflamação fundamental. Em muitos países, o poder de compra dos trabalhadores diminuiu substancialmente, uma vez que o crescimento dos salários não conseguiu acompanhar o ritmo da inflação. É concebível que os trabalhadores procurem inverter esta situação, especialmente porque os mercados de trabalho são tão apertados. As empresas, tendo tido mais facilidade em aumentar os preços do que antes da pandemia, podem, por sua vez, repercutir estes custos mais elevados. Poderá instalar-se uma espiral salários-preços.”

A burguesia conhece a lei da luta de classes. Inflação igual mobilização de milhões de trabalhadores. E o BIS manda o recado: é preciso conter isso. Um acirramento da luta de classes torna-se inevitável diante o cenário de colapso inédito:

“Entretanto, os riscos para a estabilidade financeira são consideráveis. Os níveis da dívida pública e privada, bem como os preços dos activos, são muito mais elevados do que em anteriores episódios de contração da política monetária mundial. Até à data, o excesso de poupança da era pandémica e o prolongamento geral dos prazos de vencimento da dívida durante a era do “low-for-long” têm mascarado os efeitos das taxas mais elevadas. Mas estes amortecedores estão a esgotar-se rapidamente. À medida que se esgotam, o crescimento poderá abrandar mais do que o atualmente previsto. As tensões financeiras daí resultantes traduzir-se-ão provavelmente em perdas de crédito mais elevadas. Os bancos estariam na linha de fogo. Historicamente, é comum que as tensões bancárias surjam quando a política monetária se torna mais restritiva. A dívida elevada, os preços elevados dos ativos e a inflação elevada amplificam os riscos. O atual episódio preenche todos os requisitos. Embora a situação financeira dos bancos tenha melhorado desde a Grande Crise Financeira, subsistem bolsas de vulnerabilidade. Os baixos rácios preço/valor contabilístico sugerem um grau preocupante de ceticismo dos investidores quanto às perspectivas de longo prazo de algumas instituições. E, como a experiência recente demonstrou, mesmo os pequenos bancos podem desencadear colapsos sistémicos de confiança.”

Qual a solução proposta pelo BIS? Dar aos trabalhadores os anéis para não perder os dedos? Não estão dispostos a isso ao que tudo indica. A proposta é intensificar as medidas contracionistas e recessivas. O capital financeiro através do BIS está dando uma diretriz para todos bancos centrais “independentes”: “Para os bancos centrais, a tarefa é clara. Têm de restaurar a estabilidade dos preços. Uma mudança para um regime de inflação elevada implicaria custos enormes.” “Os bancos centrais podem pensar que já fizeram o suficiente, mas acabam por descobrir que precisam de aumentar o rigor.”. “As políticas prudenciais devem ser aplicadas de forma mais vigorosa para reforçar o sistema financeiro.”.

O objetivo dos bancos centrais independentes é reforçar o sistema financeiro. Não a ajudarem no desenvolvimento de nada. Impedir a inflação mesmo que para isso a fome já enorme se multiplique. Impedir a inflação colocando milhões mais no desemprego e outros tantos no desalento.

“A política orçamental deve ser consolidada. Não apenas durante um ou dois anos, mas de forma sistemática, de modo a colocar trajetórias orçamentais insustentáveis numa base mais segura. Também isto contribuiria para a luta contra a inflação. Ao limitar o grau necessário de contenção monetária, também reforçaria a resistência financeira. Além disso, proporcionaria amortecedores extremamente necessários que poderiam ser utilizados contra futuras recessões.” O dinheiro do Estado tem que continuar indo para os bolsos dos banqueiros. Pode acabar com educação pública e saúde pública, pode destruir tudo. Mas a bolsa banqueiro tem que ser consolidada. O BIS chama os bancos centrais a endurecer na guerra contra os interesses nacionais e populares.

 

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