Por Dinovaldo Gilioli, para Desacato.info.
Do ponto de vista pragmático, não há mais o que fazer. Do ponto de vista simbólico, sim. Todas as provas arquitetadas, feito filme de ficção, estão postas à mesa. O banquete será servido logo mais, para o deleite dos esfomeados. Os patrulheiros da moral e da ética se postam para o julgamento, dispostos à atirarem a primeira pedra.
Seria cômico, não fosse trágico! Quase 40 dos julgadores ou são réus, ou investigados por crimes diversos, ou beneficiários de propina da Petrobrás. O enredo da trama foi elaborado dentro do Palácio. Os conspiradores, dentre eles um vice-presidente e ex-ministros, se deleitam, porque a fatura está devidamente paga. Há poucos riscos de não se consumar o veredito final. A (im)provável cassação do deputado federal Eduardo Cunha ficou para setembro. O julgamento das contas da campanha presidencial de Dilma Rousseff/Michel Temer, ficou para setembro.
Ou seja, nada que poderia atrapalhar ou meramente riscar o verniz do rito teatral está colocado no cenário da política brasileira. Não há a menor chance de dar errado: teremos um agosto ao gosto golpista. Só um fato muito contundente, poderia mudar o rumo da história. Será que a mídia monopolista, anunciaria? Será que a justiça (cega?), enxergaria? Será que o Senado entreguista, entregaria?
A farsa está quase completa e os bufões riem à toa. O valor já foi recebido, é só cumprir o prometido. O tribunal, aos olhos do mundo, fará o que se comprometeu a fazer com muita presteza: o abate da presa! Dilma vai ocupar, pela segunda vez na vida, o banco de réus no qual deveriam estar sentados seus algozes. Uma maioria corrupta deverá condená-la, mesmo diante de uma abstrata fundamentação jurídica. Se trata tão somente de um julgamento político!
Os que perderam a eleição, estão fazendo o que prometeram: “vamos sangrar o governo”. Mais do que sangrar, estão abatendo! A campanha invisível de grupos internacionais aliados à grupos nacionais, contrários a direitos trabalhistas, descontentes com os parcos avanços civis/sociais e estarrecidos com a aliança do Brasil fora do eixo estadunidense, favoreceram, sobremaneira, à baixa popularidade do governo Dilma e às grandes manifestações estimuladas/orientadas imageticamente pelos patos da FIESP.
O comparecimento da presidenta Dilma Roussef no Senado não deverá mudar os votos, lacrados à sete chaves pelo governo TEMERário. Será um momento simbólico, de se olhar olho no olho. De não baixar a cabeça, àqueles que se dizem representantes do povo. Um momento de expor, de escancarar a falta de provas concretas para o impedimento de um governo legítimo, eleito democraticamente.
A presença de Dilma poderá ser apenas mais uma etapa do processo farsesco. Ou uma oportunidade de denunciar o governo imposto e o projeto antinacional de redução de direitos trabalhistas e de entrega do patrimônio e riquezas do país. Poderá ser mais uma oportunidade de conclamar à luta pela democracia e derrocada de um governo usurpador. Este sim, um legítimo representante da oligarquia internacional e nacional; contrário aos interesses do povo e de uma nação que se pretende soberana.
Tudo pronto para o abate. Nada a comemorar!
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Dinovaldo Gilioli é escritor.