A covereadora integrante da mandata coletiva Quilombo Periférico Samara Sosthenes (Psol-SP) foi alvo de um atentado a tiros na madrugada deste domingo (31). Segundo sua assessoria, um homem em uma motocicleta parou em frente à casa onde Samara mora com a mãe e os irmãos e efetuou um disparo de arma de fogo para o alto. A ação foi relatada por uma testemunha à parlamentar, que ontem mesmo registrou boletim de ocorrência no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Travesti e líder de movimentos sociais, Samara disse à Polícia Civil que o crime pode ter motivação política ou transfóbica. O mandato da parlamentar também levanta as mesmas suspeitas. De acordo com o Quilombo Periférico, o “modus operandi” do ataque é “idêntico ao do atentado contra a vida de Carolina Iara”. A também covereadora, pela Bancada Feminista do Psol em São Paulo, travesti e intersexo, teve a casa alvejada por dois tiros na última terça (26).
O mandato lembra que, na semana dos dois crimes, a vereadora Erika Hilton (Psol-SP), mulher trans e negra, precisou registrar um boletim de ocorrência após se sentir perseguida por um homem identificado como “garçom reaça” dentro da Câmara. “Não nos calaremos diante da violência racista e transfóbica contra nós! O Estado de São Paulo tem o dever de investigar”, reivindicou o Quilombo Periférico em suas redes sociais.
Medo e insegurança
Samara também comentou que “nunca aconteceu algo desse tipo” na rua onde mora na região de Guarapiranga, no Extremo Sul da capital paulista. À Ponte Jornalismo, a covereadora disse nesta segunda (1º) estar com “medo e também revoltada pelo que aconteceu. E acima de tudo preocupada com a minha família. Esse é o sentimento que está em mim neste momento”.
Ao UOL, ela também registrou que “nunca recebeu ameaças via redes sociais”. Mas no meio da semana passada, com os ataques às suas colegas vereadoras, precisou reforçar a segurança pessoal. “A gente precisa pensar em um novo protocolo de segurança. Para mim, para a Iara e para as outras mulheres da bancada”.
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Entidades, lideranças e parlamentares também registraram pelas redes sociais solidariedade à Samara. A deputada estadual Erica Malunguinho (Psol-SP) advertiu que é “muita séria essa onda de ataques”. Pelo Twitter, Erica afirmou que solicitou uma reunião com o secretário de Justiça de São Paulo, Fernando José da Costa, para “tomada de todas as medidas cabivéis”. O objetivo, segundo a deputada, é “retomar a conversa” que teve na última quarta (27) com o secretário de Segurança Pública, general João Camilo Pires, “por compreender o agravamento da violência contra as parlamentares que são mulheres trans”, escreveu.
Repetir Marielle
Um apelo para que as autoridades do estado investiguem e monitorem os casos de violência política contra as mulheres negras e transexuais parlamentares também foi enviado por entidades de direitos humanos e mandatos do Psol ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, na sexta (29).
No documento, reproduzido pelo UOL, é citado que “no Brasil persiste um cenário de permissividade para que assassinatos como o de Marielle Franco continuem ocorrendo, não tendo o Poder Público agido desde a morte de Marielle para evitar a repetição de crimes políticos tão bárbaros quanto esse às mulheres negras e transexuais que têm sido eleitas para exercer mandatos políticos”.
Tanto Samara, como Carolina e Erika participaram ativamente de eventos nesta última semana para marcar o Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado na sexta (29). Além do assassinato político de Marielle, os ataques contra as vereadoras vêm na esteira das ameaças de mortes contra a deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ).