Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.
Fotografias e colaboração de Fernanda Pessoa.
Depois da terceira manifestação contra o desmando do oligopólio de transporte coletivo de passageiros de Florianópolis e região, fica uma sensação algo preocupante. Não houve grande participação popular, em alguns momentos, segundo as fotografias e os cálculos de pessoas experientes neste tipo de ato, o número de efetivos militares parecia do tamanho da manifestação.
Estamos em férias universitárias e escolares. Também é plena temporada de turismo e muito florianopolitano depende de fazer o pé de meia no verão para sobreviver boa parte do ano. O carnaval está na porta do calendário. Até aí dá para compreender um possível desinteresse e até a apatia num assunto tão premente que transborda em muito seu próprio valor e está no miolo da Mobilidade Urbana e Periférica de Florianópolis. Desde o ponto de vista da população de Florianópolis e Região esse pode ser o cenário, e sem ela, os estudantes universitários não conseguirão ir muito além. Mas, há reflexões necessárias para depois do carnaval, quando as mobilizações deveriam ter um tamanho adequado à implicância do tema.
É necessário aumentar o foco e ver melhor o que abrange este assunto das tarifas e como se projeta encima da sociedade. Porque parece uma fatalidade que se arrasta desde o governo municipal de Angela Amin em 1999 e não é. Aqui não há incompetência do governo municipal, quem dera… É um propósito deliberado, privado, comercial, que envolve uma soma de interesses infinita. Que não funcione o transporte coletivo de passageiros é um belo negócio. É uma benção para a venda de um pacote gigante de serviços privados relacionados ao transporte individual (combustível, autopeças, venda de carros estimulada no crédito fácil, estacionamentos de diversas modalidades, segurança, sistemas de sonorização e ventilação, semáforos e sinais diversas de trânsito, indústria das multas, seguros, etc.).
E amarrado a esses negócios está o negócio político-partidário e os interesses expressos e ocultos. O problema não se limita a César Souza Junior ou Raimundo Colombo. O governo federal é responsável do caos do transporte em Florianópolis e no país. O que é que faz? No afã escancarado da Presidenta Dilma de passar seus projetos desenvolvimentistas num Congresso majoritariamente alheio, abre o leque de alianças até o impensável. Não só concretiza alianças eleitorais para garantir a eleição nacional, como que as consolida num gabinete ministerial que nem o próprio PT parece disposto a aturar por muito tempo. A garantia da “gobernabilidade” da presidenta Dilma também está no cerne deste escândalo tarifário do transporte.
Tão desastrado é esse leque armado pelo Executivo Nacional que, por tabela, o associa a Câmara de Vereadores mais deslegitimada da história de Florianópolis, cujos mais notados suspeitos são de um partido aliado ao governo federal, via Souza Jr. e Colombo.
Certamente a militância petista têm dificuldades para absorver tamanho disparate. A militância do PCdoB não passa melhor com um cargo no alto escalão do governo Colombo, exercido por Angela Albino. Não há como desatrelar os desastres políticos construídos pelas direções das siglas à imobilidade social de suas bases. Há vergonha e desconforto.
Com o tamanho pequeno demais dos outros partidos de esquerda e sua escassa convocatória prática, a população de Florianópolis e os estudantes, terão que jogar sozinhos ou com alguns poucos sindicatos, que não sejam correias de transmissão das siglas, para ir às ruas, obter recursos econômicos e políticos e manter acessa a briga pelo transporte.
Enquanto isso, o serviço continua inumano, a cidade emperrada, o controle social aos pobres em aumento, o individualismo exacerbado, os serviços privados aumentando geometricamente seus lucros e a natureza padecendo a estupidez, o desinteresse e pior, a linha privatista impiedosa dos governos municipal, estadual e federal.
É importante, portanto, uma Frente Única, Social e Política, que vá além dos interesses privados, partidário-eleitorais e da entrega das direções partidárias aos ditames do mercado. O Governo Federal é culpado como todos os outros. Este desastre de imobilidade urbana faz parte do seu projeto de gobernabilidade. Neste assunto, a Presidenta Dilma e seu Mininitro das Cidades, Gilberto Kassab , estão do outro lado da calçada. O lado de César Souza Junior e Raimundo Colombo.