Transporte coletivo: quem precisa de memória?

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Por Elaine Tavares.

Hoje, dia primeiro de outubro, deveriam entrar em vigor todas as promessas contidas no edital de licitação que definiu a empresa operadora do transporte coletivo urbano na cidade de Florianópolis. Alguém ainda se lembra de tudo o que aconteceu? E como foi que se definiu o edital? Ah, a memória… Quem precisa dela? Melhor é esquecer para viver em paz.

Mas, pessoas há que não esquecem. Foi assim. Depois de anos e anos de luta popular para que houvesse, enfim, uma licitação a definir as empresas que operam o transporte, finalmente um prefeito se dispôs a isso. O prefeito em questão é o atual: César Souza Junior. Mas, como não poderia deixar de ser, o processo que construiu a proposta de licitação se fez sem participação daqueles que tanto batalharam para que ela viesse.

O edital foi apresentado numa segunda-feira, às oito horas da manhã, sem divulgação massiva. Poucos usuários puderam participar porque não tinham tido preparação prévia. Foi uma farsa. Naquele dia, o representante da prefeitura, Domingos Bonin, falou por mais de uma hora sobre como seria o novo sistema de transporte pensado pela nova gestão. Segundo ele, Florianópolis teria um sistema moderno, totalmente informatizado, com informações “on line” para usuários, trabalhadores do sistema e operadores. Seria criado um Centro Integrado de Gestão que comandaria todo o sistema, inclusive com os novos modais que se agregariam com o tempo. Todas as informações estariam disponibilizadas via internet e os usuários poderiam acompanhar o ônibus através de aplicativos nos tablets e smartfones. Rotas, horários, tempo de chegadas, atrasos, enfim, tudo estaria disponível “on line”. Ainda no reino encantado do novo sistema, o centro de comando poderia se comunicar em tempo real com os motoristas, informando sobre situação do trânsito e outros casos de emergência.

A apresentação, naquela manhã, apontou as maravilhas das inovações tecnológicas do novos sistema, mas frustrou os usuários e representantes de movimentos sociais que estavam na audiência, uma vez que as novidades não traziam qualquer mudança no que realmente interessa a quem usa o “sistema desintegrado”, ou seja, aumento de horários, o traçado das linhas, o trajeto e, fundamentalmente, a lógica de integração, que hoje é totalmente inadequada, aumentando em mais de hora o tempo dos trajetos.

Por conta da omissão sobre os verdadeiros problemas do sistema foram feitas intervenções por parte do público cobrando propostas para esses nós do transporte, que tem causado tantos transtornos à população. Não bastava a apresentação de um incrível sistema informativo que muito mais serve ao empresariado do que aos usuários. Afinal, que interessa saber se o ônibus está aqui ou ali, parado no trânsito? O que se precisa é de mais ônibus circulando e uma integração efetivamente racional. Também houve a reivindicação de que se avançasse na construção da tarifa zero, uma demanda antiga dos movimentos populares. Mas, a reunião com os tecnocratas da prefeitura ficou nisso. E, sem que nada do que fora dito fosse levado em conta, saiu o edital, bem assim. Sem qualquer alteração nos pontos que são importantes para a população.

O edital foi lançado, e o resultado todos conhecem. As empresas que dominam as rotas em Florianópolis desde há anos formaram um consórcio e foi esse consórcio o único a se apresentar. Logo, os vencedores do edital foram as mesmas empresas que têm tornado a vida das pessoas o inferno que é.

Vencida a estranha licitação de um candidato só, na verdade a medusa das cinco cabeças – Transol, Canasvieiras, Emflotur, Insular e Estrela – o transporte coletivo de Florianópolis seguiu sendo o que sempre foi: um tormento. Em alguns bairros até piorou, como no caso do sul da ilha em que vários horários foram suprimidos sem que ninguém soubesse por quê. Questionada a empresa Insular sobre os motivos, a funcionária mandou falar com a Prefeitura e na Prefeitura mandavam falar com a Insular. “Melhor encaminhar à ouvidoria”. Ou seja. Nada acontece e a população fica sem ter a quem recorrer. Hoje, os ônibus que seguem para o Jardim Castanheiras estão cada vez mais lotados e com menos horários.

A única mudança visível no “admirável” sistema é a da cor dos ônibus. Ao que parece todos eles serão pintados de branco e azul. Frota nova? Nem pensar. Apenas 13% dos ônibus foram renovados, dentro da média de atualização. Já o super-mega-power Centro de Comando ainda tem até o ano que vem para ser constituído e, até lá, muita água vai rolar. Então, fica-se assim. Nada de informatização, nem de horários nos tablets, nem frota nova, nem tarifa zero, nem linhas novas, nem aumento de horários, nem integração de verdade.

Tá bom?

Ah, tá, não dá para dizer que não houve nenhuma vantagem para os usuários. A tarifa baixou 0,10 centavos.

Fonte: Eteia Blogspot

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