Trans lutam por visibilidade e respeito

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Giovanna Gery trabalha com carteira assinada em uma loja de cosméticos, mas sabe que é exceção (Foto: Reprodução)

Por Tisa Moraes.

Celebrado no dia 29, Dia da Visibilidade Trans chama atenção para a necessidade de combater o preconceito e garantir direitos a transexuais e travestis

A homofobia e a transfobia matarão uma pessoa hoje. Amanhã, outra será assassinada. Segundo relatório do Grupo Gay da Bahia, a cada 25 horas, um brasileiro LGBT perde a vida de maneira criminosa no País.

Ainda de acordo com o levantamento, uma transexual tem 14 vezes mais chances de ser morta do que um homem gay: foram 144 vítimas em 2016. É o País que mais mata travestis e transexuais no mundo, segundo a ONG Transgender Europe (TGEU). Nos Estados Unidos, como medida de comparação, 21 trans foram assassinadas no ano passado.

Para lançar holofotes sobre o problema e ampliar o debate sobre a necessidade de garantir os direitos desta população, o Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual (Cads), a Comissão da Diversidade Sexual da OAB de Bauru, a Associação Bauru pela Diversidade (ABD) e o vereador Markinho de Souza realizam, nesse domingo, 29, um encontro com transexuais e travestis. A intenção, além de fazê-las ocupar os espaços públicos da cidade, é orientá-las sobre os canais para denunciar atos de homofobia e transfobia.

“Vai ser um evento fechado. Vamos nos reunir em uma pizzaria com cerca de 20 convidados. A visibilidade é um método eficaz de combate ao preconceito, a partir da naturalização do convívio com o restante da sociedade”, observa Leandro Lopes, presidente do Cads e vice-presidente da Comissão da Diversidade Sexual. A confraternização marcará o Dia da Visibilidade Trans, comemorado em todo 29 de janeiro desde 2004.

Avanços

Apesar dos avanços alcançados em pouco mais de uma década, como o direito do uso do nome social, Lopes avalia que ainda são poucas políticas públicas específicas voltadas à chamada comunidade T. Ainda hoje, devido à discriminação, a população de trans e travestis tem grande dificuldade de alcançar níveis mais elevados de escolaridade, ter acesso ao mercado de trabalho e ao atendimento de saúde especializado, além de ser alvo de violência diariamente.

“Em pouco mais de uma década, a visibilidade das pessoas trans melhorou muito na cidade. Elas conseguem ocupar espaços públicos de uma maneira que não ocorria no passado, mas o processo é lento e a garantia de direitos ainda está longe do ideal. E as trans continuam sendo, dentro da sigla LGBT, as que mais sofrem”, considera.

Visibilidade trans

O Dia da Visibilidade Trans é comemorado em 29 de janeiro porque, em 2004, nesta data, ativistas transexuais participaram, no Congresso Nacional, do lançamento da primeira campanha contra a transfobia no País. A campanha “Travesti e Respeito”, do Departamento DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, foi a primeira ação nacional idealizada por ativistas transexuais para a promoção do respeito.

O Dia da Visibilidade Trans tem o objetivo de ressaltar a importância da diversidade e respeito pelo Movimento Trans, representado por travestis, transexuais e transgêneros.

Nós precisamos provar o triplo de capacidade, conta transexual

Foi com 17 anos que Giovanna Gery decidiu assumir características femininas e modificar a aparência de seu corpo, biologicamente masculino. Hoje com 32 anos, ela conta que viveu uma jornada muitas vezes atrapalhada pelo preconceito.

“Precisamos provar que temos o dobro, o triplo de capacidade e ter uma conduta extremamente correta para sermos respeitadas e termos oportunidades. Hoje, vez ou outra, ainda enfrento olhares de reprovação, mas isso não tem importância na minha vida”, frisa.

Giovanna trabalha com carteira assinada em uma loja de cosméticos da cidade e chegou a fazer dois anos de faculdade de direito, mas sabe que a aceitação social que conquistou não se repete para a maioria das pessoas que são, como ela, transexuais.

“Por eu trabalhar com maquiagem há muito tempo, fazer shows em casa noturna e por apresentar a Parada da Diversidade, eu acabei me tornando conhecida na cidade. E isso, junto com a minha postura, me dá uma rotina de tranquilidade. Mas, até chegar aqui, precisei batalhar muito”, completa.

Instituições da diversidade pedem criação de um cadastro municipal

O Cads, a Comissão da Diversidade Sexual da OAB Bauru, a ABD e o vereador Markinho de Souza entregaram ao prefeito Clodoaldo Gazzetta um requerimento para solicitar a criação do Cadastro Municipal de Pessoas Travestis e Transexuais. Da reunião, também participou o titular da Sebes, José Carlos Augusto Fernandes.

O cadastro, que ficaria sob responsabilidade da Sebes, também poderia ser útil para nortear o município para o estabelecimento de políticas públicas. Se viabilizado, o cadastro deverá ser voluntário e sigiloso, a fim de resguardar informações confidenciais de travestis e transexuais.

Fonte: Geledés.

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