Por Mariana Kneip Botelho, Ecodebate.
Antes da atual tragédia climática que devastou o Rio Grande do Sul, cientistas de diversas partes do Planeta já estavam de olho no Brasil. Em 2023, o país tinha enfrentado 12 eventos climáticos extremos, incluindo cinco ondas de calor, três chuvas intensas, uma onda de frio, uma inundação, uma seca e um ciclone.
Segundo o relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), mais de 300 cidades tiveram impactos significativos em várias regiões do país no ano passado. Já nas últimas semanas, somente no Rio Grande do Sul, 458 municípios foram afetados pelas enchentes que viraram notícias em todo o mundo.
Vale destacar que o ano de 2023 foi marcado como um dos mais quentes já registrados na história, aproximando a Terra do seu “limite seguro”. Em julho do ano passado, por exemplo, a Amazônia foi atingida por uma onda de calor, considerada sem precedentes, que contribuiu para uma das piores secas registradas. O nível do Rio Negro caiu para 12,70m, o mais baixo desde 1902. Também foram registrados 22.061 focos de incêndio em outubro de 2023, pior número registrado na Amazônia desde 2008, afetando a qualidade do ar para os cidadãos de Manaus (AM).
Na outra ponta do país, o estado gaúcho enfrentou quase 10 eventos extremos em menos de um ano, segundo o Governo do RS. Desde as tempestades no Vale do Taquari em setembro de 2023, passando pelas enchentes em São Borja, Itaqui e Uruguaiana em outubro, até a estiagem em Barra do Rio Azul em novembro do mesmo ano. O atual, que estamos observando agora, é sem dúvidas o mais catastrófico, com perdas imensuráveis.
Especialistas alertam que esse tipo de evento deve se tornar cada vez mais frequente, à medida que a crise climática global se aprofunda. “Estamos diante de um choque de realidade triste, mas que precisa ser encarado. O momento chegou, e a população sente os efeitos devastadores dessas mudanças climáticas”, afirma Gustavo Loiola, professor e consultor em ESG e Gerente do PRME/ONU. O especialista explica que para lidar com essa situação, duas frentes de ação são essenciais: a redução de emissões de gases do efeito estufa e a adaptação aos impactos já em curso.
“Como comunidades e organizações, podemos nos preparar para os desafios climáticos por meio da adaptação e resiliência. Investir em infraestrutura resistente, desenvolver planos de emergência, adotar práticas sustentáveis e aprender com soluções baseadas na natureza são passos cruciais para promover um futuro mais seguro e sustentável”, diz. “Além disso, no contexto empresarial, é importante considerar os impactos das mudanças climáticas em nossas operações e decisões de negócios. Ao integrar considerações climáticas em nossa estratégia, não apenas mitigamos os riscos, mas também identificamos oportunidades para promover práticas que contribuam para ações de transição para uma economia de baixo carbono”, destaca Loiola.
Segundo Gustavo, o processo de eletrificação, o investimento em energias renováveis e a adoção de uma economia verde são algumas das medidas necessárias para mitigar as causas da crise climática. “Ao mesmo tempo, é fundamental que a sociedade se prepare para enfrentar os impactos que já estão acontecendo. Isso envolve a construção de infraestruturas mais resilientes e o uso inteligente dos recursos naturais. Só assim poderemos construir um futuro mais sustentável e resiliente para todas as comunidades”, completa o consultor em ESG.