Idealizadores do editorial Próxima Parada: Monte Serrat realizam campanha de financiamento para possibilitar a distribuição gratuita de história para a comunidade
Via Priscila dos Anjos.
A implantação de ônibus nas comunidades do Morro do Maciço da Cruz, em 1993, é tema de editorial produzido pela jornalista Priscila dos Anjos e pelos designers Luccas Coelho e Jefferson Maier. Com o material de 24 páginas de texto, gráficos e fotos finalizado os idealizadores estão realizando uma campanha de financiamento para viabilizar a impressão da reportagem.
O objetivo é distribuir a reportagem para a população do Monte Serrat, a primeira comunidade a receber linha de ônibus no Maciço do Morro da Cruz. Para os idealizadores do projeto, o baixo percentual de acesso às redes entre os pobres e periféricos no Brasil faz com que seja necessário a distribuição do material na comunidade.
De acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2015, que mede a posse, o uso, o acesso e os hábitos da população brasileira em relação às tecnologias de informação e de comunicação somente 56% dos domicílios têm acesso à internet e, entre os pobres e periféricos, este percentual cai para 28%.
A campanha busca arrecadar a quantia necessária para imprimir 10 mil cópias da reportagem. Para está quantidade será preciso arrecadar cerca de R$ 5400. Conforme a arrecadação, a distribuição do material impresso poderá ser ampliada.
Com elementos multimídias, a reportagem Próxima Parada: Monte Serrat – Um resgate sobre a conquista do Transporte Coletivo nos morros de Florianópolis foi publicada no Coletivo de Mídia Independente Maruim em 2016.
Acompanhe a campanha:
https://www.facebook.com/events/213677089126220/
Veja o projeto: https://www.editorialmonteserrat.com/galeria
Leia a reportagem: maruim.org/2016/07/15/proxima-parada-monte-serrat/
Como contribuir:
Transferências e depósitos
Priscila O. dos Anjos
CPF: 090.843.419-70
Banco do Brasil
Agência: 3047-3
Conta: 17.476-9
Atenção: Ao depositar se identifique para que possamos agradecer você no editorial impresso.
Pontos de coleta (whatts e cel):
Centro/estreito/capoeiras – Priscila (99646-4174)
Carvoeira/UFSC – Luccas (99961-7610)
Trindade/UDESC – Jeff (47 99660-6620)
Próxima parada: Monte Serrat resgata contexto de privação de direitos das comunidades periféricas de Florianópolis
Os primeiros ônibus começaram a circular em Florianópolis ainda na década de 20, quando a cidade ganhou suas primeiras avenidas, como a Avenida Hercílio Luz, e recebeu sua primeira ligação por terra entre o continente e a ilha: a ponte Hercílio Luz. Porém excluídas das medidas de modernização, intensificadas pelo governo na década de 20, as comunidades de morro, tiveram acesso ao transporte público somente em 1993.
A primeira linha de ônibus nas comunidades do Maciço do Morro da Cruz foi inaugurada no dia 13 de agosto de 1993, e passou a atender a população do Monte Serrat, a maior população do Maciço (Morro do Mocotó, Morro da Mariquinha, Rua Laudelina Cruz Lemos, Vila Santa Clara, Rua José Boiteux, Rua Ângelo Laporta, Morro do Céu, Morro do 25, Morro do Horácio, Tico Tico, Morro da Queimada, Morro da Penitenciária, Serrinha, Mocotó e Monte Serrat). Entre 1993 e 1996, anos da gestão municipal de Sérgio Grando, foram criadas mais 11 linhas. A ação nomeada de Programa Transporte no Morro, pelos administradores municipais da época, entre eles, Névio Carvalho (gerente do Núcleo de Transportes), foi concebida durante a campanha municipal de 1992.
Com as reformas urbanas que iniciaram na década de 1920, ocorreram também, remoções de habitantes das residências mais humildes da área central da cidade, como afirma Barbosa (2007). Esse foi só um dos três fatores da formação populacional do Monte Serrat. Além da expulsão da população negra das áreas centrais da cidade, com o objetivo de executar obras urbanas sanitaristas, ele também cita em seu trabalho a ocupação do território por escravos fugidos e libertos, durante o século XIX, e a migração de população negra empobrecida de Biguaçu e Antônio Carlos, em meio ao desenvolvimento da construção civil, nas décadas de 1950 e 1960.
Visto que parte da formação das comunidades do Maciço do Morro da Cruz iniciou com a expulsão de moradores da região central da cidade e que foram adotadas em Florianópolis medidas desenvolvimentistas que ignoraram as classes sociais mais baixas, é possível perceber, que desde o começo do século XX, os habitantes de comunidades como Monte Serrat demoraram em ser percebidos como cidadãos pelos governantes da cidade.
Serviços como água encanada só chegaram ao Monte Serrat na década de 1980, sendo que o primeiro reservatório da cidade foi construído em 1909, dentro da comunidade do Maciço, que naquela época passa a ser chamada de Morro da Caixa em referência a Caixa d’Água da cidade.
De acordo com membros do Conselho Comunitário do Monte Serrat, das décadas de 80 e 90, Carlos Cardoso, Maria de Lourdes da Costa Gonzaga (Uda) e João Ferreira de Souza (Teco), o debate sobre o transporte público sempre foi pauta presente nas reuniões do Conselho, e nas negociações com os administradores municipais daquela década.
Mas foi só durante a eleição municipal de 1992 que a pauta dos moradores recebeu a atenção de políticos. Os candidatos Sérgio Grando (PPS) e Afrânio Boppré (PT) anunciaram a implantação de linhas de ônibus no morro como promessa de campanha. Em outubro de 92, a cidade escolheu a Frente Popular, coligação de partidos políticos formada por: PC,
PCdoB, PDT, PPS, PSB, PSDB, PT e PV, para administrar a cidade.
Apesar da resistência das empresas de ônibus, seis meses após assumir o executivo da cidade, em 13 de agosto de 1993, Sérgio Grando, inaugurou a primeira linha de ônibus no morro, a 113 – Monte Serrat. Nessa época o Monte Serrat já era a mais populosa das comunidades do Maciço. De acordo com dados do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), 2.100 pessoas habitavam a comunidade em 1993. Hoje, 23 anos depois, com 10 mil habitantes, a linha Monte Serrat conta com ônibus a cada 40 minutos nos dias úteis. Porém, a linha não atende somente esta população, mas também o Alto Caieira, comunidade com início da formação populacional nos últimos dez anos.
Imagem: Diogo de Andrade