Trabalhadores da UFSC fazem greve histórica

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    Por Elaine Tavares, jornalista

    O dia 05 de agosto de 2014 marcou um momento histórico na luta dos trabalhadores técnico-administrativos em educação (TAEs) na Universidade Federal de Santa Catarina. Depois de serem surpreendidos com uma portaria disparada pela administração central, a qual dispunha sobre a jornada de trabalho, eles decidiram aprovar uma greve de ocupação. Era a primeira greve interna da UFSC – embasada com pautas locais – e a primeira greve na qual em vez de parar as atividades os trabalhadores ampliavam o atendimento. Tudo isso porque a portaria chegou poucos dias de finalizada uma greve nacional, durante a qual os trabalhadores vinham num processo de discussão com a reitoria para a implantação das 30 horas, com atendimento ininterrupto de 12 horas ou mais. Os trabalhadores receberam a portaria como uma retaliação pela greve e uma quebra de acordo, uma vez que as conversas estavam fluindo no sentido de realizar debates sobre o tema em todos os centros da UFSC.

    A decisão dos TAEs em realizar uma greve de ocupação surpreendeu também a comunidade, acostumada a associar greve com setores fechados. Mas, dessa vez, o que se viu foram setores abrindo ao meio-dia e também à noite, ampliando o serviço para os estudantes e público em geral. Em poucos dias de movimento a comunidade já começou a se apropriar da nova dinâmica, aprovando e solidarizando-se com os trabalhadores. No Departamento de Administração Escolar, um dos mais procurados pelos estudantes, a alegria era geral. “Facilitou muito a vida, porque a aula acaba meio-dia e a gente pode vir aqui e resolver tudo sem problemas. Quem trabalha tem o tempo certo para mexer com a burocracia”, explicava uma aluna da Economia. “Para mim é ótimo porque eu faço estágio e agora tenho tempo de resolver os problemas. Gostei bastante dessa jornada de 12 horas”. Da mesma forma, setores como coordenadorias de cursos e Pró-Reitorias, abertos ao meio-dia e à noite tiveram um fluxo muito grande de pessoas. “Uma greve assim é legal. Mas, bom mesmo seria se fosse sempre assim. Seria bom para toda a comunidade”.

    A proposta dos trabalhadores com a greve de ocupação era fazer com que a administração central voltasse a dialogar e realizasse os debates sobre a jornada de trabalho em todos os setores da universidade conforme proposta do grupo Reorganiza, criado pela própria administração para realizar um levantamento sobre a viabilidade das 30 horas. O engavetamento do relatório e a edição da portaria – sem qualquer conversa com os TAEs – foram considerados como um encolhimento da democracia dentro da universidade. Essa gestão, encabeçada por Roselane Neckel e Lucia Pacheco, se elegeu com o discurso da conversa, dos debates, dos fóruns e da democracia, e o que se via era o contrário. Decisões autoritárias e unilaterais.

    A greve foi se estruturando, vários setores aderiram e ampliaram o atendimento. Foi aí que começou o jogo de assédio e violência contra os trabalhadores em greve. Através da “rádio corredor” começaram a circular os boatos de que haveria corte de ponto, bem como algumas chefias, entendendo-se “mais reais que o rei”, começaram a pressionar os trabalhadores para que assinassem a folha ponto, quando a orientação da assembleia geral era de que os grevistas não assinassem. Dia após dia foi sendo criado um clima bastante tenso dentro da universidade. A greve se fortaleceu ainda mais, com os setores ampliando o atendimento em várias áreas da UFSC. Estava claro para os trabalhadores que se a greve não estava judicializada e muito menos havia sido julgada ilegal, a administração não poderia realizar cortes ou ameaças. Fazê-lo configurava-se não só uma prática antissindical como um ataque à própria Constituição, que garante o direito à greve.

    As negociações demoraram para acontecer, com a reitoria mantendo-se impassível diante das reivindicações. Mas, na última semana, uma reunião entre o comando de greve e uma comissão da administração central apontou alguma luz no final desse túnel. Depois de longas falas argumentativas de ambos os lados, ficou definido que a administração iria apresentar uma contraproposta nessa quarta-feira, dia 10, antes da assembleia.

    A greve dos TAEs completou um mês recheada de conflitos por conta da atitude das chefias em preencher com falta o ponto dos grevistas que, por conta do caráter da greve, nunca deixaram de trabalhar. A folha foi entregue no dia 5 de setembro e muitos gestores de segundo e terceiro escalão ainda não estavam seguros sobre como proceder. Essa é, portanto, uma semana decisiva para o movimento dos trabalhadores.

    A assembleia desse dia 10 pode demarcar uma nova etapa da luta. Por um mês inteiro os trabalhadores se desdobraram, ampliando o atendimento e realizando as tarefas da greve. Visitaram setores, conversaram com os colegas, organizaram o processo dos turnos. Muitas coisas mudaram no cotidiano. Setores que jamais abriram ao meio-dia agora já fizeram disso uma rotina. As coisas ficaram melhores, os estudantes estão satisfeitos. Resta saber se a administração central vai manter a posição intransigente de não discutir o tema com quem de fato precisa ser discutido: os trabalhadores. A decisão sobre a jornada foi tomada em reunião com apenas os diretores de centro, excluindo os trabalhadores. O que se espera é uma atitude democrática de debates e reflexões qualificadas sobre a jornada e o atendimento. Essa é a proposta do movimento: que haja espaço de debate, para que qualquer decisão que seja tomada venha ser democrática, com a participação real de todos os segmentos da universidade, e não apenas os gestores.

    Os TAEs da UFSC esperam agora uma proposta da reitoria. E saberão atuar em consequência. Por isso, convidam todos os trabalhadores para essa assembleia que será decisiva. Depois de quase um ano de trabalho, o grupo Reorganiza observou que a universidade está preparada para dar esse passo histórico de reduzir a jornada e ampliar o atendimento. No âmbito dos técnico-administrativos não há mais nada a esperar. Eles estão prontos para avançar e garantir a vitória, não só para eles, mas para toda a classe trabalhadora. É hora das 30 horas que, inclusive, estão respaldadas na lei.

    Fonte: Brasil de Fato

    Foto: Leandro Pellizzoni/Sintufsc

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