Formado em 2015, o Futebol, Mídia e Democracia, ou apenas FMD, reúne diversos movimentos, coletivos e torcedores em geral. Por não se tratar de uma organização de seguidores de um mesmo clube, consegue estar presente em diversos estados e agrupar dezenas de bandeiras.
Ainda no ano de sua criação, emplacou a campanha “Jogo 10 da noite, Não”, inspiração direta para a nova campanha, e conseguiu com essa pauta ocupar arquibancadas por todo o país com a luta contra o monopólio exercido pela TV (a Globo mais especificamente) em relação ao futebol brasileiro. A forma escolhida para representar essa batalha foi lutar contra o absurdo horário das 22h, quando por conta de seus interesses comerciais, a emissora que detém os direitos dos principais torneios do país, afasta dos estádios muitos brasileiros e brasileiras. Seja porque trabalham cedo no outro dia, ou, principalmente, por conta da falta de transporte público no horário que as partidas que iniciavam às 22h terminavam. Uma pequena vitória, mas muito simbólica, foi alcançada, com a emissora mudando o horário para 21:45.
Em relação aos efeitos negativos do processo atual de elitização, a integrante do FMD, Lu Castro, afirma que são muitos, “a segmentação é um deles, mas acho que o pior dos efeitos é a diminuição, cada vez mais clara, da formação de torcida para clubes brasileiros. Sem acesso ao estádio, resta a TV, que exibe muito os campeonatos internacionais. Sem contato mais próximo com uma agremiação nacional e vendo o “espetáculo” do futebol europeu, mais crianças tem assumido torcida por clubes de fora do país. Daqui uns anos, décadas até, isso terá um peso absurdo para os clubes brasileiros”.
Já para Ivandro Latino, do movimento Povo do Clube (Inter-RS) e também do FMD, “o futebol brasileiro está em um momento de unidade de pensamento entre os dirigentes de que a modernização e a organização do futebol brasileiro passa centralmente pela elitização dos clubes e pela mudança de perfil dos torcedores, dizem eles, que como o futebol ficou mais caro, com a manutenção dos estádios, principalmente das novas arenas, elevou demais os custos, então essa conta, na mentalidade deles, precisa ser dividida entre a torcida. Para Latino isso é levado a cabo as custas de excluir o “povo pobre e trabalhador, aqueles que sempre frequentaram os estádios e faziam dos jogos o seu grande momento de lazer, a sua festa, e justamente essa parcela da população foi excluída na tentativa de colocar um público com maior poder aquisitivo e com outro perfil de torcer e de se relacionar com seu time e com a própria partida”.
O grande mérito da campanha recém lançada, para o colorado Latino, é de “através do rechaço aos ingressos caros, combater esse processo e dizer que os torcedores não aceitam como único caminho para o desenvolvimento do futebol brasileiro a elitização a exclusão do povo pobre de dentro dos estádios. Colocar isso de forma articulada, de forma mobilizada, e de forma organizada. Tenho certeza que essa campanha vai pegar com a maioria dos torcedores brasileiros, assim como foi a outra campanha do coletivo Futebol, Mídia e Democracia, a campanha contra os jogos às 10 horas da noite, que foi uma campanha exitosa e vitoriosa”.
A campanha busca debater a elitização em curso e questionar as planilhas de gastos dos clubes, e para isso serão efetuadas panfletagens, colagem de cartazes pelas cidades onde o FMD possui núcleos, distribuição de adesivos, entre outras ações.
Lutar pela inclusão, ou pelo retorno, dos mais pobres aos estádios (e arenas) é o objetivo central da campanha. No dia 02 de abril, próxima segunda, acontece na sede do Barão de Itararé em São Paulo, uma reunião aberta do coletivo, que terá participação de pessoas de outros estados via Internet, com o intuito de organizar os próximos passos da batalha contra a exclusão e a elitização no futebol brasileiro.
*Thiago Cassis é jornalista e integrante do coletivo Futebol, Mídia e Democracia