O torcedor brasileiro Lucas Marcelo Andrade, que estava na Rússia para acompanhar a Copa do Mundo, gravou e divulgou um vídeo em suas redes sociais, na tarde desta quarta-feira (20), se desculpando por ter induzido uma criança russa a proferir frases de cunho machista e misógino em português (ver artigo abaixo).
O vídeo em que Lucas faz uma criança repetir frases como “Eu sou um v**do”, “Eu dou para o Neymar” e “Eu sou um filho da p*” veio à tona após a repercussão, tanto nacional quanto internacional, de um outro vídeo parecido em que um grupo de brasileiros assedia uma mulher russa. Eles a induzem a proferir frases, também em português, de cunho machista, racista e sexual.Eu seu vídeo de desculpas, Lucas afirmou que tomou uma atitude “infantil” e que sua “brincadeira” não condiz com as atitudes da população brasileira. Ele pede desculpas tanto ao menino que foi alvo de seu ato quanto à “nação russa”.
O torcedor, antes de fazer o pedido de desculpas, chegou a deletar o vídeo da criança por conta da reação negativa. Sua retratação veio justamente no momento em que começaram a circular as notícias de que o grupo de torcedores que gravou o vídeo assediando a mulher russa poderia ser alvo de investigação na própria Rússia.
Torcedor brasileiro protagoniza ataque com homofobia e misoginia contra menino na Rússia
Em mais um vídeo que começou a circular nas redes nesta quarta-feira, um torcedor brasileiro assedia uma criança a repetir frases carregadas de machismo e misoginia. Na gravação, o menino é constrangido a dizer: “Eu sou um v**do (palavra ofensivo a homossexuais), Eu dou para o Neymar e “Eu sou um filho da p*”. (forma agressiva destinada a ofender mulheres). O autor do vídeo, Lucas Marcelo Andrade, apagou a gravação depois da imensa repercussão negativa que tomou conta da web. Ainda é possível ver nas imagens uma outra criança exposta ao diálogo preconceituoso.
Depois de deletar o vídeo, ele reclamou de outras pessoas que estão compartilhando a gravação. “Já apaguei o vídeo e nêgo continua postando”. Em outros tuítes, ele reclama da Rússia, “lugar sem sal”, e diz estar de volta para a Noruega. “Arrumar as malas para voltar para a Noruega agora”. “Não aguento mais viajar de avião, p* que pariu.
A nova postagem, desta vez envolvendo uma criança, surge ainda no calor da revolta provocada pelo comportamento de Diego Valença Jatobá, Luciano Gil Mendes Coelho, Felipe Wilson e Eduardo Nunes. Eles assediam uma jovem russa a repetir frases de teor sexual .
Homens que aparecem em vídeo machista podem responder por crime na Rússia
Dessa forma, o Ministério de Assuntos Interiores deve começar a investigar o caso de acordo com a petição e com os relatos já publicados na imprensa. No vídeo, torcedores brasileiros assediam uma russa e insistem para que ela repita palavrões sem ter a menor ideia do que está dizendo.
Feminista
Na denúncia, Alyona, que é ativista feminista e umas das maiores referências no país em defesa dos direitos da mulher, cita a repercussão do caso entre imprensa, autoridades e celebridades no Brasil. As punições para os ofensores, de acordo com ela, podem variar de multa a restrições na Rússia.
“Na legislação russa, existem várias opções de multa aplicadas às pessoas que humilharam publicamente a honra e a dignidade. Assim, os cidadãos estrangeiros no vídeo podem ser responsabilizados por cometer um delito nos termos da Parte 1 do art. 5.61 do Código de Ofensas Administrativas (insulto, isto é, honra e dignidade de outra pessoa, expressa na forma indecente – implica a imposição de uma multa administrativa aos cidadãos, no montante de mil a três mil rublos), ou processado sob Parte 1 do art . 20.1 do Código Administrativo (vandalismo), isto é, a violência da ordem pública, expressando desrespeito claro para a sociedade, acompanhados por linguagem ofensiva em locais públicos, abuso sexual ofensivo para os cidadãos”, diz a petição.
“E se comprovar que os estrangeiros cometeram os atos destinados a incitar o ódio ou inimizade, bem como a humilhação de uma pessoa ou grupo de pessoas em razão do sexo, raça, nacionalidade, língua, origem, atitude à religião, bem como pertencentes a um tanto o grupo social, publicamente ou usando a mídia, eles podem ser levados à responsabilidade criminal”, completa ela.
OAB abre investigação contra advogado
A seccional de Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE) abriu investigação sobre a conduta do advogado Diego Valença Jatobá em vídeo machista na Rússia. Ele é um dos homens que assediam russas a repetir frases de teor sexual em português. O advogado é também ex-secretário de Cultura, Turismo e Esportes de Ipojuca, município do litoral do estado.
A denúncia contra Jatobá foi encaminhada pela Comissão da Mulher Advogada ao Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem. A investigação pode levar a uma advertência o ou até a cassação da carteira de advogado. Em nota, a OAB afirmou que “a preconceituosa atitude é causa de vergonha para todos nós, brasileiros, e vai na contramão do atual contexto de luta contra a desigualdade de gênero”.
“Está se verificando se a conduta do advogado viola nosso Código de Ética e Disciplina na parte em que proíbe que o advogado tenha uma conduta incompatível com a dignidade da advocacia. O Tribunal verá se essa conduta por ter sido praticada no exterior se é passível de ser punida em Pernambuco. O advogado está passível de uma punição que pode ir desde uma simples advertência até a exclusão dos quadros da OAB”, disse Ronnie Duarte, presidente da OAB de Pernambuco ao telejornal NE 2 .