A vida é um flash de ousadia, melhor ou pior pensado, que leva você para cima e para baixo na rua. Virando os cantos você vai ao encontro dos outros, aqueles que também são sua memória, a história de uma vida compartilhada. E você deixa seu refúgio, se cruza com eles, deixa para trás medos e suspeitas, espera que o outro saia do balanço, para, dá nome a eles, os abraça, tira seu chapéu, desmonta preconceitos, senta-se para refazer o tempo como se fosse deles, como se fosse nosso, desenrola uma saudação, compartilha uma mesa, repara distâncias, perde-se, descobre-se, celebra encontros.
Em trânsito por nuvens e telhados você aprende a exorcizar igrejas e dissolver absurdos com doses racionais de argumentos sensatamente loucos, assim você desliga tudo que não é música e volta para a rua segurando a mão daquela criança que sabe que você não está mentindo. A vida é um brilho alegre e ousado, uma batida sensual na porta que normalmente ouvimos muito tarde, quando nenhum dia nos é mais indiferente. E há dias para nascer, para abraçar o mundo e deixar, no final da noite, uma sonata de amor na janela e um sorriso pendurado no espelho, assim como há dias para fechar os olhos e deixar a noite desvendar a nostalgia e a nudez até a noite chorar em goles e em silêncio, mas todas as noites amanhece.
(Preso politikoak aske)
Tradução: Tali Feld Gleiser, para Desacato.info.
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Todas las noches amanece
Por Koldo Campos Sagaseta.
(De Gara)
La vida es un fogonazo de osadía mejor o peor pensada que te lleva y te trae por la calle. Doblando esquinas vas a encontrarte con los otros, esos que también son tu memoria, la historia de una vida compartida. Y sales de tu refugio, te cruzas con ellos, dejas atrás miedos y suspicacias, esperas a que el otro se baje del columpio, te paras, los nombras, los abrazas, te quitas el sombrero, desmontas los prejuicios, te sientas a desandar el tiempo como si fuera suyo, como si fuera nuestro, descorchas un saludo, compartes una mesa, remiendas las distancias, te pierdes, te descubres, celebras los encuentros.
En tránsito por nubes y tejados aprendes a exorcizar iglesias y a disolver absurdos a racionales dosis de argumentos sensatamente locos, así que apagas todo lo que no sea música y vuelves a la calle llevando de la mano a ese niño que sabe que no mientes. La vida es un fulgor alegre y atrevido, un sensual aldabonazo que solemos oír muy tarde, cuando ya ningún día nos es indiferente. Y hay días para nacer, para abrazarse al mundo y dejar, al cabo de la noche, una sonata de amor en la ventana y una sonrisa colgada del espejo, como hay días para cerrar los ojos y que la tarde desenrede nostalgias y desnudos hasta llorar la noche a sorbos y en silencio, pero todas las noches amanece.
(Preso politikoak aske)
Koldo Campos Sagaseta é escritor basco-dominicano.
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