Por Claudia Weinman, de Santa Catarina, para Desacato. Info.
“Quem contar traz à memória, sabendo que a dor existe, quando a morte ainda insiste, em calar quem faz a História. Pois quem morre não tem glória, nem tampouco desespera, é um valente na guerra, tomba, em nome da vida. Da intenção ninguém duvida, quando matam um Sem Terra.
É o desatino fardado, armado até os dentes, até esquecem que são gente, quando estão do outro lado. E vestidos de soldado, todo o sonho dilacera, violência prolifera tiro certeiro, fatal. Beiram o irracional, quando matam um Sem Terra”. “Quando matam um Sem Terra”, é um poema escrito pelo cantador popular, Pedro Munhoz, em memória a um dos companheiros Sem Terra, que nesta longa estrada de movimentos e canções, fez brotar a inspiração para tal composição.
Porém, no dia de hoje, essas palavras estão misturadas com a dor da perda de outros companheiros de vida, que enfrentaram forte batalha na tarde de quinta-feira, dia 07, no acampamento Dom Tomás Balduíno, na região de Quedas do Iguaçú no Paraná.
Nossa solidariedade
Aqui no estado de Santa Catarina, a noite de quinta-feira foi movida a muita preocupação. Eram companheiros/as enviando mensagens, pedindo informações, desesperados pelas vidas perdidas nas mãos dos fardados, pelas vidas de companheiros/as que ajudaram a construir aquela história e estavam dando seguimento a um projeto sonhado por muitos. O sonho da dignidade, da moradia, para colocar fim ao sofrimento, a fome, a necessidade que atinge o povo.
Ainda na noite de quinta-feira, nossos companheiros/as receberam mensagens do povo que está em luta no Paraná. Isso porque, a imprensa tradicional focou, como sempre, na criminalização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra, (MST), como historicamente tem feito com os demais movimentos e organizações sociais. Nesta contracorrente da informação, aproveitamos este espaço para destacar a fala de um dos companheiros que acompanha o caso no Paraná: “A polícia fez uma emboscada para o povo. Ela não estava deixando chegar perto dos corpos para ver os feridos, eles gritavam: ‘Se chegar perto vamos atirar’. É um clima de guerra e os conflitos devem se acirrar”.
Em uma entrevista concedida por um dos militares, e cuja mensagem indignou ainda mais as organizações sociais, mostrou-se uma absurda criminalização com o povo que vive naquela localidade. Segundo a fala de um Coronel da Polícia Militar, foram os Sem Terras quem armaram uma emboscada, que estes estariam armados e receberam os policias com tiros. A repórter que conduziu a entrevista chegou a falar que o MST queria invadir a cidade e o Coronel enfatizou: “A Polícia Militar não vai tolerar isso. Pedimos que os ‘inocentes’ não apoiem esse movimento”.
Diante de tamanha truculência, as organizações sociais do estado de Santa Catarina, em especial representando aqui a Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), Pastoral da Juventude Rural (PJR), registram a sua profunda solidariedade aos companheiros/as que estão sofrendo com a pressão e violência no estado do Paraná. Reforçamos uma vez mais a nossa luta e compromisso com a vida dos povos.
Não é de hoje que os interesses pela concentração de terra ferem o povo. Mandatários de diferentes origens seguem matando gentes, construindo empreendimentos para beneficiar determinada parcela, envenenando as pessoas com seus alimentos transgênicos, eliminando todas as formas de vida que resistem em proteger a terra e suas histórias.
Portanto, seguimos vigiantes, acompanhando as informações que a imprensa conservadora tem divulgado para criminalizar ainda mais nossos povos e principalmente, vamos continuar fazendo resistência a todo ódio, violência, a toda truculência daqueles/as que historicamente tem atuado para exterminar vidas. E assim vamos seguir, pois, “Não se desiste da luta, quando matam um Sem Terra”, embora o coração esteja repleto de dor e sofrimento.
Fonte do Poema: Poema Pedro Munhoz
Mais informações em: Portal Desacato