No bairro onde o jovem vivia, mais uma vez carros foram queimados, fogos de artifício e granadas artesanais lançados. Uma agência bancária foi incendiada e os moradores de um prédio tiveram que ser retirados de suas casas por causa da fumaça.
O tiro à queima-roupa do policial contra o adolescente, filmado em plena luz do dia durante uma abordagem ao veículo dirigido por Nahel, continua causando revolta em muitos bairros populares do país. Uma investigação foi aberta na França após a morte do adolescente de 17 anos. O jovem, que dirigia sem carteira de motorista, foi morto quando tentou fugir de uma blitz.
“Vai ser a guerra, os policiais o mataram e ele era menor de idade, normal que todos estejam nervosos na França”, diz um jovem manifestante à reportagem da RFI.
“Vai chegar um momento em que as pessoas vão comprar armas para acertar suas contas elas mesmas, como acontece nos Estados Unidos”, acredita outro jovem entrevistado na marcha por Nahel.
“Nós agimos assim porque não somos ouvidos. É a nossa maneira de fazer a polícia e a França compreenderem que as coisas não podem ser assim”, completa outro jovem.
“Justiça por Nahel”, gritavam muitos participantes da marcha em Nanterre.
Reforço policial
Para conter a “generalização” da violência urbana, as autoridades mobilizaram 40.000 policiais, além de unidades de intervenção de elite. Apesar do reforço, houve violência e degradação em várias cidades.
Os confrontos com a polícia começaram no fim da tarde desta quinta-feira (29), após a marcha em memória do jovem. Ao todo, 667 detenções foram feitas, conforme informou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, esta manhã. Entre elas, 307 ocorreram somente em Paris e cidades vizinhas. De acordo com a mesma fonte, 249 policiais ficaram feridos.
“Ontem à noite, os nossos policiais e bombeiros enfrentaram uma violência rara. De acordo com minhas instruções, efetuaram 667 detenções”, disse o ministro do Interior, que acrescentou que “nesta fase, não há nenhum ferido grave a lamentar”.
“Não houve confronto direto muito violento com a polícia, mas há uma série de lojas vandalizadas, saqueadas ou até queimadas”, detalhou um oficial da Polícia Nacional. Na capital, lojas do famoso centro comercial Les Halles e da rua de Rivoli, que leva ao Museu do Louvre, foram visadas.
Onda de ações pelo país
Além dos distúrbios em Paris, a prefeitura de Clichy-sous-Bois foi parcialmente incendiada e supermercados foram saqueados em diversas localidades, como Montreuil e Epinay-sur-Seine. Em Drancy, os manifestantes usaram um caminhão para forçar a entrada de um centro comercial, que foi parcialmente incendiado.
Mais uma vez, prédios públicos foram degradados, como em Amiens, no norte, onde um jardim de infância foi parcialmente incendiado e o local não pode acolher as crianças na manhã desta sexta-feira, segundo a prefeitura.
No centro da cidade de Marselha, ao sul do país, a vitrine da biblioteca municipal do Alcazar foi danificada. No Porto Velho, houve confrontos entre a polícia e um grupo de 100 a 150 pessoas, que supostamente tentavam montar barricadas.
Protestos violentos também foram registrados em Rouen, Nantes e Brest, onde o sub-prefeito, Jean-Philippe Setbon, descreveu à AFP “muitos confrontos entre a polícia e pequenos grupos”.
Perturbação no transporte
O tráfego de ônibus e tramways que havia sido interrompido na região parisiense às 21h desta quinta-feira (29) foi retomado parcialmente esta manhã, mas deverá haver perturbações ainda durante todo o dia, segundo informações do ministro dos Transportes, Clément Beaune. Em entrevista ao canal RMC, ele disse “não querer tomar nenhum risco”. “Esta noite foi novamente difícil”, admitiu Beaune, condenando “atos de vandalismo inaceitáveis”.
Pela segunda vez em dois dias, o presidente Emmanuel Macron participa de uma célula interministerial de crise, às 13h em Paris, 8 horas de Brasília.
Na quinta-feira, uma passeata em homenagem a Nahel reuniu cerca de 6.200 pessoas em Nanterre, perto do local onde aconteceu o drama. A mãe da vítima, em cima de uma camionete, vestia uma camiseta com os dizeres “justiça para Nahel”.