Por Viegas Fernandes da Costa.
A História fala de uma Segunda Guerra Mundial porque a entende como uma continuação da Primeira, o que de fato ela foi. Assim, uma Terceira Guerra seria a continuidade da Segunda, algo que nunca aconteceu, salvo se considerarmos a Guerra Fria como sendo esta continuidade. Por isso, não faz muito sentido falarmos de Terceira Guerra, o que não significa que o mundo, obviamente, não corra o risco de se envolver em um conflito total e generalizado geograficamente. Ocorre, porém, que os senhores da guerra gostam de guerras, desde que possam mantê-las sob controle. Uma guerra total e generalizada não é algo que se possa manter sob controle, e por isso será evitada pelos senhores da guerra. No mais, é importante lembrar que os atentados de 2001 já nos mostraram que as guerras nesta distopia líquida em que vivemos podem se generalizar de maneiras não convencionais, e que aqueles atentados já servem como marco para as relações geopolíticas deste século XXI.
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Diante dos ataques envolvendo os Estados Unidos e o Irã, as redes sociais e a imprensa pautaram novamente a Terceira Guerra. Desde a década de 1980 o Ocidente pinta o Irã como uma nação liderada por loucos. Aprendemos a ter medo do Irã mesmo que este país nunca tenha feito qualquer ataque militar convencional fora das suas fronteiras nacionais depois de encerrada a guerra contra o Iraque. O Irã nunca produziu guerras preventivas, conceito convencionado por Bush Filho ao atacar o Afeganistão e o Iraque após os atentados de 2001. O Irã nunca jogou bombas nucleares sobre alvos civis, como o fez os EUA em 1945 no Japão. Neste sentido, é mais fácil confiarmos na nação persa do que nos títeres da Casa Branca para afastarmos a possibilidade de uma guerra total e generalizada geograficamente. Não haverá uma Terceira Guerra, porque a Segunda não deixou herdeiros, mas sempre existe o receio de um conflito que poderia ser muito pior do que aqueles que marcaram a primeira metade do século XX, justamente porque se valeria de estratégias não convencionais. A depender dos senhores da guerra e do próprio Irã, não corremos este risco. O que preocupa, entretanto, é saber que o presidente dos Estados Unidos é Donald Trump e que a soberba e autoconfiança do nacionalismo estadunidense podem levar ao erro de cálculo.
* Viegas Fernandes da Costa é Historiador e Professor do Instituto Federal de Santa Catarina.