Enquanto assistimos horrorizados à intolerável perda de milhares de vidas e ao enorme sofrimento do povo palestino, vemos com grande preocupação o assédio e a tentativa de
silenciamento das opiniões divergentes que fazem parte do debate público. Associar a defesa da causa palestina —o direito inalienável deste povo de viver em seu próprio território, respeitando todas as resoluções da ONU— ao antissemitismo e apoio ao terrorismo é operação sumamente desonesta e afronta aos direitos humanos.
Não é aceitável, sob nenhum argumento, a existência de um povo apátrida, vivendo segregado e em condições de um apartheid. Menos aceitável é a ausência de indignação internacional e de pressão institucional contra o governo israelense para que respeite a norma internacional, cumprindo as exigências da ONU sem subterfúgios.
Qualquer análise honesta de como chegamos a esse ponto de violência extremada deve começar lembrando que os palestinos que optaram por uma saída diplomática para o conflito com Israel foram traídos. A narrativa que não parta das razões do fracasso histórico
dos acordos de Oslo e da total inação da comunidade internacional é falsa e enviesada. A falta de respeito a acordos internacionais de paz sempre produziu as piores consequências.
A tolerância da comunidade internacional com o desrespeito por Israel dos compromissos assumidos permitiu que ali se consolidasse um regime de apartheid contra os palestinos com o intuito de manter a dominação de um único grupo étnico e nacional. Não obstante 20% da população de Israel ser formada por palestinos, em 2018 foi aprovada a Lei Básica
do Estado-Nação, afirmando que “o direito ao exercício da autodeterminação nacional no Estado de Israel é exclusivo ao povo judeu”. Consolidava-se, assim, um sistema de segregação e desigualdade institucionalizada por leis e políticas em toda a Palestina histórica.
Neste momento, é incontornável enfrentar corajosamente o problema que afeta o mundo inteiro: a paz no Oriente Médio depende do fim da ocupação ilegal dos territórios palestinos e do apartheid. A circulação de discursos sobre a “enorme complexidade” da situação é falaciosa e tem como objetivo ocultar a continuidade da limpeza étnica do povo palestino.
A única resposta à tal dissimulação da realidade é a exigência de que finalmente os direitos
inalienáveis do povo palestino sejam respeitados por Israel com a devolução dos territórios
da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental, da Faixa de Gaza e das colinas de Golã.
O sistema de segregação e discriminação contra o povo palestino, na sua própria terra, precisa dar lugar a um regime de respeito universal a todos que ali vivem. Somente o compromisso com a paz real, com soluções duradouras ancoradas no direito internacional e
com o respeito à liberdade de expressão, pode produzir a consciência mundial capaz de eliminar as supremas injustiças a que os palestinos continuam submetidos.
Caso contrário, como disse José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura: “Um dia se fará a história do sofrimento do povo palestino e ela será um monumento à indignidade e covardia dos povos”.
Arlene Clemesha
Professora de história árabe (USP)
Marilena Chaui
Professora emérita de filosofia (FFLCH-USP)
Paulo Sérgio Pinheiro
Professor de ciência política (FFLCH-USP) e ex-ministro de Direitos Humanos (governo FHC)
Vladimir Safatle
Professor de filosofia (FFLCH-USP)
Leda Paulani
Professora titular da Faculdade de Economia e Administração da USP
Carlos Augusto Calil
Professor da Escola de Comunicação e Artes da USP
* Os autores escrevem em nome de um grupo maior de docentes da Universidade de São Paulo
Publicado originalmente na Folha de São Paulo.
A despeito do ódio e da guerra de seus líderes pelo domínio exclusivo sobre a Terra Prometida, é o povo pobre e sofrido, Judeu e Palestino igualmente, que a pés descalços honra a Terra Santa.
Seria demais sonhar com a harmonia entre os povos do Oriente Médio, Árabes, Palestinos e Judeus, filhos do mesmo pai Abraão, embora tenham se espalhado desde o início justamente por receio de conflitos?
Seria demais sonhar que esses povos irmãos possam se respeitar e reconhecer o direito legítimo de Judeus e Palestinos a um território próprio na terra onde nasceram?
Sei que parece ingenuidade. Mas, resisto em manter viva a chama da esperança e a fé na humanidade. No entanto, as respostas às perguntas acima estão dentro de nós. Perguntas que, na essência, poderíamos nos fazer em reiteradas situações:
Somos capazes de ter empatia, perdoar ou ao menos dialogar com aqueles que, aparentemente, pensam diferente de nós? Acreditamos na possibilidade de construirmos soluções juntamente com eles? Ou negamos tudo isto por receio do mal que poderiam nos fazer?
de Lisboa, Portugal, uma homenagem à coragem e um grande obrigada aos ilustres professores.