Por Luciane Recieri.
Hoje aprendi a soltar as mãos do guidão enquanto percorria as ruas de minhas memórias… Por quantas vezes passei por estes sinais, olhos de fogo, garantia pouca e boba de vida.
Soltei.
Percebi que não se segura nada com as mãos, por isso deixei abertas as palmas, entre os dedos o frio incomum desta tarde de escombros, verdadeiro este mês que convencionaram chamar de fevereiro, últimos dias pra botar os pés em março.
Por uns instantes, talvez pelas mãos abertas, me senti dona de todas as realidades e dos mais parcos sonhos. Braços abertos, abracei o vento que passou por eles e soltei, nada mais quero pra mim, além desse vazio bom de não ter nada a levar.
Fechei os olhos e fui dizendo baixinho à alma que me habita:
– Tenho mais medo não senhor. Tenho mais medo não senhor. Tenho mais medo não senhor… Tenho mais… mais… medo… não senhor…
Era isso que diria se alguém viesse me entrevistar quando cheguei inteira no fim da rua.
Sabe? Quando não se tem mais medo e que se está começando a viver de verdade.
Imagem: Auto-retrato de Luciane Recieri.