Temer constrói sua candidatura à custa da morte de brasileiros

Por Carlos Fernandes.

Se existe uma coisa em comum entre canalhas é o cinismo. A desenvoltura com que essa fauna mente, tergiversa, fabula e desconversa sobre segundas e terceiras intenções, é algo que afronta a inteligência até dos mais desavisados.

O caso do apresentador e ex-futuro presidenciável, Luciano Huck, é sintomático. Apesar de negar reiteradas vezes que seria candidato ao mais alto cargo da República, o animador de programa semanal só desistiu de fato da sua flagrante intenção somente após aparecer as primeiras evidências do seu moralismo de botequim.

Sabendo da devassa que inevitavelmente iria ocorrer sobre os seus negócios e, sobretudo, sabendo o que fatalmente iriam encontrar, não restou outra alternativa ao prodígio do velho FHC senão abdicar da aventura. As perdas e danos, ele sabe bem, seriam incalculáveis.

Para Michel Temer, porém, que nada há mais a perder, a história é diferente.

Recordista disparado em impopularidade, alvo de duas denúncias criminais apresentadas em pleno exercício do cargo e em vias de ser mais uma vez instado a prestar contas com a justiça numa terceira investigação em curso, o nauseabundo presidente tem ciência clara de sua situação.

Talvez o único conforto para quem já perdeu tudo é que sua última cartada já não pode lhe trazer mais prejuízos do que já acumula.

Fracassado na Reforma da Previdência e a poucos meses de perder o foro privilegiado, Temer abraça o absurdo. Dono de um percentual de popularidade que mais parece com uma margem de erro, o cidadão que virou chacota até de escola de samba vislumbra a reeleição.

Como situações desesperadoras normalmente provocam atitudes desesperadas, chegamos a mais um ineditismo de um governo em ruínas nascido de um ato de desavergonhada traição.

Pela primeira vez desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, uma intervenção militar é autorizada no país. É algo tão sério, drástico e perigoso que nenhum outro presidente desde então teve a irresponsabilidade de decretá-la.

A ferida ainda hoje aberta causada pela terrível experiência da Ditadura Militar de 1964, já seria motivo mais do que suficiente para que uma medida dessa natureza fosse sumariamente descartada.

Quando ficamos sabendo que os principais conselheiros da presidência da República sobre um assunto tão sensível são simplesmente os seus marqueteiros, é algo que, justiça tivéssemos, configuraria crime de traição à pátria. Mais uma.

É pública e notória a ação política do decreto. A utilização de nossas forças armadas como peça de propaganda nacional para que um chefe de quadrilha possa permanecer no poder é a desmoralização última de nossas instituições.

Ainda pior, pôr em risco de morte pelas armas de nosso próprio exército cidadãos brasileiros indefesos em condições precárias impostas pela própria lógica capitalista, não é só um ato inconstitucional, é um ato cruel.

O exército, em país nenhum do mundo, está preparado para cuidar da segurança urbana. Até porque nenhum exército foi criado para isso. A imersão de uma força tão letal em comunidades superpopulosas e complexas como as favelas do Rio de Janeiro é uma tragédia anunciada.

Não é à toa que o comandante do exército, General Eduardo Villas Bôas, já exige que os militares tenham “garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade”.

O que ele diz sem querer dizer é que haverá abusos, excessos, injustiças e… mortes de civis inocentes. Para isso, exige de antemão um salvo conduto antecipado.

Que a ganância, a corrupção, a inépcia, o despreparo e o desrespeito de nossos governantes matam, é um fato. Mas desde o período de chumbo que um presidente não fazia isso com tanta propriedade e se utilizando de seu poder oficial.

É desumano, mas a candidatura de Michel Temer está sendo forjada com o sangue de brasileiros inocentes.

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