Temer


Por Celso Vicenzi, com o perdão de Carlos Drummond de Andrade.

E agora, Temer?
A festa acabou,
a luz do golpe apagou,
até o Jucá sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Temer?
e agora, você?
você que foi à rua
combater a corrupção,
que zomba da Dilma,
você que bate panela,
que odeia, protesta só contra Dilma, Lula e o PT?
e agora, Temer?

Está sem mulher nos ministérios,
está sem discurso,
está sem o carinho do povo,
já não pode bebemorar,
porque a cobra vai fumar,
já que cuspiu no prato em que comeu;
o discurso do impeachment esfriou,
o dia de glória não veio, usurpador;
o bonde da história descarrilou,
o riso começa a virar tragédia,
a trama foi desvelada
e tudo acabou
a farsa ruiu
o golpe mofou,
e agora, Temer?

E agora, Temer?
Sua enganadora palavra,
seu instante de lobo disfarçado de cordeiro,
sua gula de poder e jejum de votos,
sua vaidade,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro estilhaçado,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer conter o mar de lama,
mas o tsunami chegou;
quer ir para Minas,
Minas acordou (nem o Aécio se elege mais).
Temer, e agora?

Se você gritasse,
ninguém acudiria,
se você gemesse,
ninguém se importaria,
se você tocasse
a valsa vienense, desafinaria,
se você dormisse,
teria pesadelos de consciência,
se você cansasse
dessa ambição traiçoeira e imorredoura,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, Temer!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, Temer!
Temer, para onde?

Para o panteão dos mais
ignóbeis traidores da pátria.

Imagem: www.brasilpost.com.br

Fonte: http://celsovicenzi.com.br/2016/05/temer

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