Faz 30 (TRIIIIIINTA!!!!) anos que sou dona de um pequeno terreno na Praia de Armação do Itapocoroy, município de Penha/SC, imposto pago ano a ano direitinho, tudo certinho como manda a lei, mas ao longo dos anos algumas coisas estranhíssimas têm acontecido com meu terreno, como se ele estivesse embruxado – ou será que é a prefeitura municipal de Penha quem está ardendo dentro do caldeirão de uma bruxa?
Vamos aos fatos: meu terreno, devidamente escriturado, foi registrado no Registro de Imóveis da Comarca de Piçarras/SC, sob matrícula 8835, no dia 13 de setembro de 1982, Protocolo nr 10.258, fls. 266, do livro 1-A.
Durante 22 anos limitei-me a pagar os impostos do mesmo; um dia, bateu a vontadezinha de construir por lá, e lá estive para me certificar se tudo estava certo. Que aconteceu? O terreno havia sumido! Quem me disse foram os moços do departamento competente da prefeitura – não recordo seus nomes (embora possa reconhecê-los ao primeiro olhar), mas sei que eram daquele departamento porque foi lá detrás dos seus balcões que eles me atenderam a primeira vez, até me conheciam, até conheciam minha irmã, com quem haviam estudado, e, gentis, foram comigo ao local do terreno, mediram daqui, mediram de lá – e me disseram que o terreno havia sumido debaixo da estrada que se construíra por ali, aquela que é conhecida como Terceira Avenida.
Bem, se a estrada engolira meu terreno era mister recorrer à Justiça para pedir indenização e devolução dos impostos pagos indevidamente, e foi o que foi feito, isto no ano de 2004. O processo correu no Foro de Piçarras, Vara Única, nr 08.04.002507-9, e a conclusão dele foi que… o meu terreno não havia sumido!
Bonito mapa muito bem feito, assinado pelo Sr. Edga Manger, Técnico em Agrimensura CREA – SC Registro nr 11.326-2 foi emitido, mostrando com total clareza onde estava o meu terreno, e munido dele, fui lá, pisei sobre ele, fiz projetos de onde ficaria a futura varanda da casinha onde pretendia sentar-me com o computador ao colo nas tardes de primavera, para escrever coisas lindas sobre os lindos acontecimentos da minha vida do futuro, planejei onde plantaria um ipê amarelo, essas coisas que a gente sonha quando está pensando em fazer a casinha dos seus sonhos para viver tempos tranquilos.
Desde então, diversos acontecimentos tumultuaram a existência do meu terreno – a mais hilária de todas foi, em novembro do ano passado, quando aqueles mesmos rapazes que atendem na prefeitura e aos quais já me referi me berravam com a boca que meu terreno havia sumido, quase cuspindo de desprezo por eu insistir naquilo (apesar de ter na mão a cópia do processo judicial, mapa do Sr. Edga Manger , via do registro de imóveis) e com a mão me estendiam o carnê de IPTU que ainda não fora pago naquele ano. Bati o pé, quis falar com o chefe (que, por sinal, foi muito gentil e educado, um neto do seu Bem, antigo morador da Praia Grande, que era meu amigo quando eu era criança), e parecia que o problema estava resolvido. Como o meu terreno é o único que não tem, à frente, canalização para águas de chuva (águas que passam bem ali) em toda a longa rua Garcia (o que me pertence é o último lote da rua, o de nr 63), saí da prefeitura, naquele dia, com a promessa de que em um mês, no máximo dois, aquele problema seria sanado e, postos os tubos necessários (competência da prefeitura) eu poderia fazer um pequeno aterro, a cerca, construir minha casinha, plantar o pé de ipê, sonhar para valer com as histórias que escreveria na ansiada varanda!
Tal foi em novembro de 2011. Sabem o que aconteceu até agora, meio ano depois? Nada. Nos últimos dois meses tenho ligado diariamente para o seu Arão, que sempre me atendeu muito bem, mas que sempre me disse o seguinte: “Semana que vem vão chegar novos tubos, vamos atender a sra. Não atendemos na semana passada porque o secretário mudou as ordens, mandou fazer outra coisa…” ou coisas assemelhadas. Quer dizer, nunquinha nunquinha que o meu pequeno pedido iria ser satisfeito, se dependesse do tal secretário (de Obras).
Daí que fiquei tentando falar com o tal secretário (de nome Evaldo Navegantes, insignificante ser, conforme pude constatar no WWW.google.com) que, sabem o que fez? Quando disse que já não podia esperar mais, deu com o telefone na minha cara! Bem coisa de menininho mimado, incompetente para um cargo político, que esqueceu de trazer para a vida a boa educação que, com certeza, sua família lhe deu em casa. Evaldinho Navegantes, que nunca vi mais gordo, agora eu fiquei braba, e não é nada bom quando eu fico braba. Trate de fazer o seu serviço e autorizar a colocação dos tais tubos diante do terreno da Rua Garcia nr 63, pois os sonhos da minha casinha já esperaram demais e se você ocupa o cargo que ocupa está na hora de fazê-lo com competência e de aprender a tratar os contribuintes com educação.
Blumenau, 24 de maio de 2012.
Urda Alice Klueger é escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
Imagem: http://plancksconstant.org