Tem bandidos na minha vila e ninguém faz nada

Por Anair Weirich.

Aqui na minha rua – Pavão, 940E Loteamento Vitório Rosa Chapecó SC – tem um casario bucólico, poético, e foi isso que nos  convenceu a vir morar aqui, há uns sete anos atrás. É uma rua sem saída, na frente os moradores, e nos fundos, floresta nativa e riacho. Vejam depois a poesia inspirada nesse lugar que antes era todo encantado.
Tem aparecido aqui em casa uma gatinha de raça exótica, pitoquinha, muito meiga. A gente já havia se afeiçoado à ela e suas visitas noturnas. Não se sabe se tinha  dono, mas era muito bem cuidada. Só não a adotamos por ser bem arisca, e nossas gatas, ciumentas que só elas, não  admitiam a presença da “Pitoca”. Alice, nossa gata preta (vejam poema sobre ela em meu Facebook) é territorialista. Do pátio pra dentro, ninguém chega, ela pensa que é cachorro; tem também a Marina (essa é branca, arteira que ela só) são as donas do pedaço. À noite a Pitoquinha consegue vir dormir em nossa varanda da frente, pois a dupla Marina e Alice ficam fechadas na varanda dos fundos. Mas isso não impede que o Negão (um baita cachorrão, bonachão, todo negro e amigo do pessoal da rua, que não ergue as patas pra sujar a gente, que rebola e faz festa com nossa chegada, que só vendo) fique no nosso portão, – do lado de fora, é claro, senão Alice pimba nele – esperando nossa chegada e um providencial lanchinho.Também ele é de rua, assim como o Neguinho, um pretinho menor, festeiro como ele só que e andam sempre juntos. Mendigos organizados, meu marido diz sempre. Como são de rua, assim como a gatinha, toda a vizinhança trata e cuida. Toda, não. Tem uns bandidos na nossa vila, que não suportam ver a alegria de viver dos bichinhos. Isso deve incomodá-los, pois cada dois ou tres meses há uma matança por aqui, onde também é local de desova de animais; por isso sempre, depois das matanças, a gente acaba ajudando novamente os que aparecem pedindo em nossas portas.
Pois bem, a bandidagem fez com que eu acordasse essa madrugada com uns miados tristes e chorosos. Era a Pitoquinha que estava morrendo. Os olhos vitrificaos pela morte me chocaram. Seus espasmos de dor dilaceravam meu coração e foi impossível conter a revolta e o pranto. Ainda não vi o Negão nem o Neguinho. O cachorro do nosso amigo Casaroto também já foi enterrado. Liguei pro 190, que me sugeriu ligar à Guarda Muncipal, o 153. O telefone fica mudo, deve ser numero desativado. Liguei pra Ric Record, e como é domingo, só o guardião me atendeu, e disse que iria passar o assunto ao plantão, que se fosse de interesse, o pessoal viria. Liguei pra RBS daqui, mas chama e ninguém atende. Liguei para as rádios daqui, com programação ao vivo, mas ninguém atendeu, nas várias tentativas que fiz. Liguei pra Jô, diretora da Ong de animais, que pediu-me para eu entrar em contato com a Jornalista Petra Sabino, voluntária da Ong, que mais não poderiam fazer. Pediu-me ela que batesse fotos, pois também ela mais não poderia fazer além de uma matéria, o que é bem verdade. Esse texto é meu choro. É minha tristeza, minha revolta diante de bandidos que atacam quem não sabe se defender, só sabe fazer festa e agradar a gente, tornanado a  vida mais linda. Daqui a pouco vou na delegacia, tentar fazer o BO, porque a outra vez, estavam de greve ou algo assim; como na segunda viajamos, o assunto morreu por aí. O que eu queria mesmo, era dar o veneno aos “traficantes” que o vendem, obrigando-os a  tomá-lo goela abaixo. E dar também, numa taça toda nojenta e trincada, soltando pedaços de vidro, a quem colocou esse veneno em alimentos onde os animaizinhos chegaram. Abaixo, fotos da Pitoca e do cachorro do Casaroto.
Ai que dor… estragou meu domingo, minha rua está cada dia mais vazia!
A poesia abaixo fala de um tempo que morreu, mas que me mata de saudades…

 

INCÓGNITA

 

Moro numa rua sem saída.

A única medida para sair dela

é dando meia-volta

até chegar na esquina.

Nesta rua tem menina

brincando de sol.

Tem até bicicleta

que passeia sozinha.

Tem Luluzinha de estimação,

tem bola, tem boneca, tem canção.

 

Tem gato que passeia no muro

e toma sol no telhado.

Minha rua é um achado!

 

Tem noite de luar

e tem verso com rima.

Quem disse que quero

chegar na esquina?

 

Moro numa rua sem saída

que tem porta e tem janela.

Mas… quem disse

que quero sair dela?

 

Minha rua tem até Mercearia.

Tem linda pradaria

e tem jardim.

Quem quer sair

de uma rua assim?

 

 

Ainda mortificada… assino abaixo

Anair Weirich, Chapecó

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