Tecendo relatos da primeira feira de ideias para adiar o fim de Floripa

“Foi um evento incrível. Reunimos coletivos e organizações ambientalistas com relevante incidência política no município.”

Estande do Quilombo Vidal Martins, e do Pomar dos ciclistas ao fundo. Foto: @leticiadb.
Estande do Eco-Memorial VERA (Valorização Ecológica e Restauração Ambiental), homenagem a moradora atingida pelo rompimento da barragem da CASAN. Foto: @leticiadb

Tendo como mote a emergência climática, com o chamado “Mudar o sistema, não o clima”, os problemas globais foram trazidos para o contexto local. Na praça, os movimentos sociais expuseram as ações e lutas das comunidades no enfrentamento de questões críticas para a cidade.

“Necessária. Com os ataques que recebemos de todos os lados, nada mais importante que encontrarmos nossos aliados e fortalecer os laços, conhecer e se envolver nas lutas.”

Ao longo do dia os grupos realizaram atividades expositivas, artísticas e culturais. A programação começou com uma ação de limpeza e coleta de resíduos na lagoa, promovida pelo Parley. Na sequência, a banda Na Esquina fez um som aconchegante, chamando as pessoas do entorno a se aproximar e botando ânimo para quem estava montando as barracas.

Banda na Esquina

Atividade de coleta de resíduos, promovida pelo Parley. Foto: Marcos Przygocki

Nas barracas, a diversidade de ideias e ações. Estiveram presentes organizações políticas (Coletivo SubvertaMandato AgroecológicoFrente Parlamentar Ambientalista e Ecotrabalhismo) , movimentos sociais, coletivos e ONGs de diferentes cantos da ilha. Também contou com atividades de grupos locais, com a presença dos atingidos e atingidas pelo rompimento da barragem da CASAN, e a escola básica municipal da Costa da Lagoa, que trouxe estudantes e professores para uma atividade de conscientização ambiental em plena praça.

“Acredito que a diversidade de movimentos que se fez presente é um dos principais fatores para o sucesso do evento. A diversidade de atividades, sendo elas culturais, pedagógicas, lúcidas, formativas foram de muita qualidade.”

A discussão sobre a emergência climática esteve presente na feira através do Túnel do Clima, um ambiente interativo montado pelo Ecoando Sustentabilidade para sensibilizar crianças e adultos sobre como nosso clima é afetado pelos chamados estressores locais, como poluição, agrotóxicos e queima de combustíveis fósseis.

Coletivo UC da Ilha também levou um panfleto sobre a importância das unidades de conservação para nos ajudar a manter um clima mais saudável, fazendo uma atividade online na semana seguinte para debater sobre o tema.

No fim de tarde, aconteceu uma roda de conversa promovida pelo Fórum da Cidade sobre a luta por um plano diretor participativo, que juntou diferentes gerações de ativistas em um assunto central para o presente e o futuro de nossos territórios, em uma cidade colocada à venda pela sua própria prefeitura municipal.

“Me parece que a feira é uma atividade prática que oferece a experiência de pertencimento e de construção coletiva. Sabemos que, pra conseguir adiar o fim de Floripa, precisamos ir além da criação dessa rede, além da feira, precisamos fortalecer e criar formas de participar das decisões que influenciam nossa vida, e democratizar esses processos.”

O clima também foi diverso ao longo do dia, com praticamente todas as estações ocorrendo em um intervalo de poucas horas. Isto certamente não ajudou a atrair mais pessoas para as atividades, especialmente para além do público que já participa dos movimentos na cidade. A instabilidade também prejudicou algumas atividades previstas, como a pintura de uma faixa pelo coletivo Pinte Lute Floripa.

“Foi importante reunir pessoas e causas afins, expor publicamente demandas e iniciativas. No entanto, o clima não ajudou muito e ficamos falando pra nós mesmos.”

Após a roda de conversa, tivemos uma sessão de cinema na praça, com projeção do curta “A Voz do Rio Vermelho”, uma websérie ambiental produzida pela Coalizão Rio Vermelho, e apresentada pela Aprender Ecologia.

Cinema na praça: Apresentação da websérie “A Voz do Rio Vermelho”. Foto: @leticiadb

“Tenho a sensação de que o exercício de criar algo como esse evento, juntes, é um caminho que podemos percorrer pra desenvolver nossas capacidades de estruturar construções coletivas cada vez mais efetivas e contundentes”.

A Fanfarra do Fim do Mundo (ou para adiá-lo!), trouxe um clima de carnaval no cair da noite, com direito à ciranda e tudo (“se não é para cirandar, essa não é nossa revolução”, já diria Emma Goldman no século XXI). E, para fechar a feira, o coletive Saia do Mar colocou todo mundo para dançar coco, numa roda que pulsava em energia.

A Fanfarra do Fim do Mundo. Foto: @leticiadb

“Foi muito bom estar perto das pessoas de novo, conhecer, dançar e celebrar as lutas da cidade!”

Após a realização da feira, o Tecendo Redes – essa articulação de coletivos que fomentou a sua construção – solicitou para que pessoas, parte da organização ou não, enviassem seus relatos e avaliações, com críticas e sugestões. São os recortes destes textos que nos inspiraram a tecer o presente relato.

“A regularidade será importante. Isso irá trazer mais união entre as organizações que visam o crescimento orgânico da cidade integrada a natureza com a saúde dos cidadãos”.

Estes ricos relatos também tem fermentado múltiplas ideias nas nossas cabeças, as quais pretendemos por em prática na sua devida maturação coletiva. Entendemos que estes encontros tem a potência de nos ajudar a romper com o desalento dos nossos dias, tornando possível sonhar novamente através do fortalecimento de nossos laços e do afeto ao coletivo.

“Gostaria que realizássemos uma por mudança de estação e em locais diferentes da ilha a cada vez. Estamos acostumadas a nos orientar pelo calendário convencional e acredito que faz parte da formação de novas subjetividades a percepção dos movimentos que independem de nós, mas dos quais somos dependentes.”

Com os próximos encontros, pretendemos nos espraiar em diferentes cantos, furando bolhas e semeando ideias para adiar o fim do mundo, para que elas possam germinar, florescer e frutificar em outros solos e estações. Também queremos com isso, potencializar novos encontros, neste ou em outros cantos do mundo, pois como diz o manifesto do Tecendo Redes:

“Embora este novelo tenha começado a se desenrolar a partir de Florianópolis, acreditamos no potencial de que se espalhe para outros cantos, pois nossos sonhos, e também nossos pesadelos, não reconhecem divisões geográficas.”

 

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