Antes orgulho nacional, a multivacinação no Brasil está fragilizada, sobretudo se observados os dois primeiros anos do governo Bolsonaro. Sofrendo oscilações desde 2016, ano me que a presidenta Dilma Rousseff do PT foi derrubada por um golpe, a cobertura vacinal de crianças teve uma grave queda em 2019. E, em 2020, registrou o pior índice desde o ano de 1995. Levantamento feito pela agência de dados Fiquem Sabendo, especializada no acesso a informações públicas, aponta, por exemplo, que a vacina BCG, aplicada em recém-nascidos para prevenção da tuberculose, chegou a 100% das crianças elencadas no público-alvo, até 2015. Porém, nos anos seguintes, houve uma pequena queda, que foi acentuada em 2019 e no ano passado chegou a apenas 73% do público-alvo.
Também aplicada em recém-nascidos, a vacina contra a hepatite B chegou a 90% do público-alvo, em 2015, mas caiu para 63% no ano passado. Da mesma forma, vacinas contra meningite, difteria, tétano, sarampo, poliomielite e hepatite A não chagaram a 80% das crianças que deviam ter sido vacinadas em 2020. Antes essas vacinas tinham cobertura entre 95% e 112% do público-alvo estimado.
Especialistas apontam diversos fatores para essa queda na cobertura vacinal, que pode ter graves consequências no futuro, levando ao ressurgimento de doenças hoje praticamente erradicadas. A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), avalia que, em grande medida, a queda na vacinação se deve à difusão de informações falsas por movimentos antivacina. E, também, devido a erros de planejamento do governo Bolsonaro, que levaram a falta de algumas vacinas e também prejudicaram a adesão da população à vacinação no tempo certo.
Informação e saúde
“O que está acontecendo desde o início desse governo é que não se tem investimento para estimular as pessoas a procurarem a vacinação, para que elas se informem e diga da necessidade. (…) E a gente começa a ver isso se refletindo no surgimento de doenças que já não víamos, por exemplo, o sarampo. É muito preocupante. Essa campanha de multivacinação que aconteceu no mês de outubro tinha a intenção de acelerar e aumentar a vacinação para outras vacinas que não covid. Mas mesmo assim houve um engajamento pequeno do Ministério da Saúde, com poucas campanhas falando sobre, um investimento pequeno”, afirma a epidemiologista.
A coordenadora da Rede Análise Covid-19, Mellanie Fontes-Dutra, ressalta que o calendário vacinal é pensado para garantir a melhor proteção para as crianças conforme seu desenvolvimento. Por isso é muito importante vacinar no tempo certo. “Existe todo um esquema de vacina que se toma nos primeiros meses de vida até a vida toda. E nessa primeira fase da vida a criança precisa dessa proteção para poder ter um desenvolvimento saudável ainda mais com seu sistema imunológico amadurecendo”, explica.
“Então é muito revelante as crianças se vacinarem. E a conscientização da família é muito importante para que a criança tenha a sua carteira de vacinação atualizada com as vacinas disponíveis para a idade dela, que retorne caso haja uma segunda ou terceira dose para assegurar que essa criança vai ter toda a proteção possível para lidar com possíveis exposições a agentes infecciosos, especialmente em um momento em que as coberturas estão baixas, é aí que a gente tem que voltar a vacinar com força de novo. Porque quando a gente vacina e as coberturas estão alta a transmissão cai e todo mundo fica mais seguro”, acrescenta.
Campanha de multivacinação
Ethel complementa que, justamente pela importância da vacinação das crianças, escolas e creches devem atuar como centros de conscientização e fiscalização da imunização.
A Campanha Nacional de Multivacinação vai até 30 de novembro e busca completar a vacinação de crianças e adolescentes até 15 anos. Entre as vacinas aplicadas na campanha multivacinação estão a BCG, contra Hepatites A e B e contra poliomielite, a Pentavalente, a Meningocócica C e a Tetraviral, entre outras.
Aproximadamente 45 mil postos de vacinação estão atuando na campanha, com as doses dos 18 imunizantes que compõem o Calendário Nacional de Vacinação. A orientação é para que as famílias levem as crianças e as cadernetas de vacinação à Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima para que o documento seja conferido e não falte nenhuma vacina para as crianças e adolescentes.
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