São Paulo – A covid-19 volta a ser considerada fora de controle no Brasil, o que não ocorria desde 22 de junho, conforme aponta relatório divulgado nesta terça-feira (21) pelo Imperial College de Londres. O instituto, referência em epidemiologia no mundo, mostra que a taxa de transmissão (Rt) do coronavírus no país está em 1,03. A Rt deve estar abaixo de 1,0 para que a pandemia seja considerada controlada. O número expressa, na prática, que cada grupo 100 pessoas contaminadas transmite a doença para outras 103. O dado mostra que o surto tende a piorar.
Na última semana, este índice estava em 0,81 – até então o menor desde novembro passado. Ainda de acordo com o Imperial College, a projeção de mortes por covid nesta semana no Brasil é de 3.980, superior às 3.950 do período passado – e o maior em três semanas. A média diária de mortes, calculada em sete dias, está acima de 500 há oito dias. Com os números atualizados de hoje (confira abaixo), este índice subiu para 520 vítimas a cada um dos últimos sete dias.
Balanço
O relatório de hoje do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) foi divulgado sem dados de Acre, Bahia e Rio de Janeiro e Ceará, que alegaram problemas técnicos para o envio dos dados. O Ceará foi além e extraiu dados de alguns dias do balanço geral, o que provocou um recuo no informativo de novas infecções para um número negativo, de -573. Já em relação às mortes, foram notificados 485 óbitos.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, o Brasil soma 591.440 vítimas do vírus e 21.247.094 casos, sem contar com ampla subnotificação denunciada por cientistas e reconhecida por autoridades.
Vacinação
O fato de a covid-19 estar novamente fora de controle no Brasil tem relação com o fim precipitado das medidas de distânciamento social, demonstram os cientistas. Também impacta a baixa taxa da população completamente vacinada com duas doses ou vacina de dose única, no caso da Janssen. Apenas 40,08% dos brasileiros estão com esquema vacinal completo, enquanto 72,81% já receberam uma primeira dose. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica, para controle do surto, acima de 80% de totalmente vacinados.
Outro fator de aceleração da covid no Brasil é a disseminação da variante delta, até 70% mais contagiosa e com maior escape vacinal, ou seja, com poder de circular mesmo entre vacinados. Em países onde há resistência à imunizadção, como os Estados Unidos, a cepa delta provocou estragos. “Os Estados Unidos estão mostrando para o mundo o desastre que pessoas não vacinadas podem causar no meio de uma pandemia. Essas pessoas não vacinadas representam um risco para os vacinados. A transmissão para os vacinados pode selecionar mutações que colocam em risco todos nós”, afirma a epidemiologista e pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel. De acordo com Centro de Controle de Doenças (CDC) daquele país, mais de 90% dos mortos e internados com covid-19 são de pessoas que rejeitaram as vacinas.
Adolescentes
Após o Ministério da Saúde ceder à pressão negacionista do presidente Jair Bolsonaro e suspender a vacinação entre adolescentes, o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu autonomia dos estados de prosseguirem com a imunização dessa faixa etária. A medida está alinhada com a ciência e à própria Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) – que recomenda a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos com a vacina da Pfizer. A pasta tentou suspender a vacinação dos mais jovens após Bolsonaro argumentar, a partir de notícias falsas, sobre problemas de saúde entre vacinados jovens.
A decisão do Supremo veio a partir do ministro Ricardo Lewandowksi, após pedido do PSB. “Consideradas as situações concretas que vierem a enfrentar, sempre sob sua exclusiva responsabilidade, e desde que observadas as cautelas e recomendações dos fabricantes das vacinas, da ANVISA e das autoridades médicas, respeitada, ainda, a ordem de prioridades constante da Nota Técnica 36/2021- SECOVID/GAB/SECOVID/MS, de 2/9/2021.”