Por Flávio Carvalho, para Desacato.info.
Pediram-me um texto de homenagem ao Dia da Professora, 15 de Outubro. Eis que… Tânia!
“Quando um dia qualquer isso for feito, todos dois viverão intensamente, começando uma vida diferente, da que a gente até hoje tem vivido… Imagine o Brasil ser dividido e o Nordeste ficar independente” (Ivanildo Vilanova).
Havia um par de aulas não obrigatórias na Universidade Federal de Pernambuco, que tornaram-se obrigatórias para mim, por livre e feliz escolha. Não estavam entre a “grade curricular” de sociologia ou antropologia que eu cursava. Mas até contavam ponto, na soma de “créditos”, em linguagem acadêmica. Não eram créditos a me interessar. Há tempos eu havia descoberto que a imposição de algo a aprender era inversamente proporcional à paixão de estudar o que se gosta, com quem se gosta.
Tânia Bacelar (dando aula de Geografia Humana), Ariano Suassuna (professor de Iniciação à Estética, no Centro de Artes) – e eu acrescentaria João Francisco, no Centro de Educação – eram aulas tão disputadas na Universidade Federal de Pernambuco, que tinha fila de reserva na pré-inscrição; e conseguia quem se inscrevia primeiro.
Antes de Tânia ser professora PopStar, na UFPE, dava “aulas” (palestras, debates, etc.) informalmente, em diversos encontros dos movimentos sociais brasileiros. No Sindicato dos Bancários onde eu fui dirigente durante uns quantos bons anos, não havia convite que Tânia amavelmente não atendesse.
Na SUDENE, onde eu estagiei, convivi ainda mais perto de Tânia. Tenho uma foto de um bolo de seu aniversário – que eu mesmo fui buscar, todo orgulhoso – que eu fiz questão de aparecer no retrato, como papagaio de pirata (e deu certo).
Ela, Tânia, poderia ter sido a própria Superintendente da SUDENE. Mas, humilde, almoçava conosco, num bandejão.
Creio que nunca chegou a superintendente (ou mesmo ministra de qualquer governo de esquerda), por machismo. Ou por não querer, pela humildade imensa que sempre demonstrou.
Uma vez, num táxi que pegamos juntos em Recife, Tânia, eu e Mané de Serra, Presidente da CONTAG, o taxista falou mal de Lula. Tânia perguntou a ele se queria que ela transmitisse a sua queixa pessoalmente, pois teria uma reunião com Lula, no dia seguinte. O taxista, entre incrédulo e temeroso, esperou Tania baixar do carro e perguntou-me se ela estava falando a verdade. Como o seu ponto de táxi era na frente da Sudene, peguei o seu contato e prometi dar-lhe um retorno. E o dei.
O taxista ficou decepcionado com a resposta que eu lhe trouxe na semana seguinte, pois Lula não pôde reunir-se com Tânia e enviou-lhe a Ministra de Minas e Energia.
Eu tive o maior trabalho de dar-lhe um retorno, ao taxista, e o homem menosprezou minha resposta, dada por Tânia Bacelar. Ele falou algo tão machista como: “mulher reunida com mulher não resolve nada”.
Seu protesto era relativo à forma como a política pública de economia estava tratando a questão do preço dos combustíveis. A Ministra com quem Tânia se reuniu chamava-se Dilma.
Vou tentar falar com aquele taxista, anos depois, e perguntar-lhe o que os homens do atual ministério fascista da economia estão fazendo de melhor por ele e pelo astronômico preço da gasolina brasileira.
Viva Tânia. E Viva Ariano e João Francisco.
Aquele abraço.
PS.: a resposta de Tânia Bacelar ao taxista da SUDENE era tão atenciosa quanto uma aula de economia aplicada ao mais verdadeiro conceito de educação popular. Um privilégio. Reforçou minha hipótese de que um dos maiores problemas do mundo são os homens que ainda hoje se recusam a escutar uma ou duas mulheres, pelo simples fato de serem mulheres. Não sabem o que perdem. Eles. Eu não. Que eu não sou besta.
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Flávio Carvalho é sociólogo, escritor e participante da FIBRA e do Coletivo Brasil Catalunya.
@1flaviocarvalho, @quixotemacunaima. Sociólogo e Escritor.
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