Direto do túnel do tempo, um retorno retumbante a um Afeganistão feudal, patriarcal e antidemocrático. Quem sai perdendo de maneira ostensiva é o contingente feminino da população, que havia respirado relativamente nos anos da ocupação ocidental, e que agora se vê obrigado aos ritos nada igualitários da tradição radical islâmica. Nesta sexta-feira (17), o Talibã fechou o Ministério da Mulher para substituí-lo pelo da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, como há 20 anos.
Trabalhadores afegãos foram vistos instalando uma placa com a imagem do Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício no antigo prédio do Ministério da Mulher, na capital Cabul. Várias reações apareceram nas redes sociais nas últimas 24 horas, mostrando funcionárias do ministério se manifestando em frente ao prédio, pois alegavam ter perdido o emprego.
“Ninguém ouve as nossas mulheres”, rebateu uma internauta no Twitter, enquanto outra questionou: “O que mais podemos esperar destes animais?”. Nenhum porta-voz do Talibã respondeu aos pedidos da agência AFP para comentar o assunto.
Embora tenham insistido que governariam com mais moderação do que quando dirigiram o Afeganistão de 1996 a 2001, os radicais islâmicos não permitiram que a maioria das mulheres voltasse ao trabalho. Nenhuma afegã consta entre os ministros do novo governo talibã, anunciado há duas semanas.
Nesta sexta-feira, o Ministério da Educação anunciou em comunicado a reabertura das escolas de ensino fundamental e médio para meninos e a volta ao trabalho dos professores. “Todos os professores e alunos do sexo masculino devem voltar às suas escolas”, disseram, sem qualquer menção a professoras ou alunas do ensino médio.
No regime anterior, meninos e meninas dividiam as mesmas salas apenas em algumas escolas primárias e na universidade. No ensino superior, a segregação de gênero será a regra, já anunciou o Talibã, que introduziu novas normas sobre o que as mulheres podem vestir.
Direitos fundamentais nos últimos 20 anos
Embora ainda marginalizadas, as mulheres afegãs adquiriram direitos fundamentais nos últimos 20 anos, especialmente nas cidades, tornando-se parlamentares, juízas, pilotas e policiais.
Centenas de milhares delas entraram no mercado de trabalho – muitas vezes por necessidade, já que muitas são viúvas ou apoiam maridos que agora estão incapacitados, após décadas de conflito.
Mas desde seu retorno ao poder em 15 de agosto, o Talibã não demonstrou disposição de garantir seus direitos. Os islâmicos dizem que as mulheres receberam ordens de ficar em casa para sua própria segurança, mas terão permissão para trabalhar assim que houver uma “segregação adequada”.
Durante o primeiro governo dos extremistas, as mulheres foram em grande parte excluídas da vida pública. Eles só podiam sair de casa se estivessem acompanhados por um homem. Agentes do Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício eram conhecidos por chicotear mulheres que andavam sozinhas.
Eles também eram responsáveis por impor estritamente outras interpretações estritas do Islã, como a obrigação de comparecer às orações e a proibição de homens se barbearem.
Com informações da AFP