Super-ricos nos EUA pagam ‘quase nada’ de imposto de renda, indicam declarações vazadas

Reportagens da ProPublica dizem ter tido acesso a documentos de Jeff Bezos, Warren Buffet e Elon Musk. Foto: Getty Images

Bilionários estadunidenses como Jeff Bezos e Elon Musk, nomes que estão entre os mais ricos do mundo, chegaram a pagar pouco ou nenhum imposto em determinados anos, segundo revelou o site jornalístico ProPublica.

Bezos, fundador da Amazon, não pagou impostos em 2007 e 2011, enquanto Musk, da Tesla, não pagou nada em 2018. As informações reveladas até aqui não indicam ilegalidade, mas sim esquemas que permitem aos super-ricos usarem o sistema a seu favor.

Usando dados coletados pela revista Forbes, a ProPublica disse que, coletivamente, a fortuna dos 25 estadunidenses mais ricos aumentou US$ 401 bilhões de 2014 a 2018 — mas eles pagaram US$ 13,6 bilhões em impostos de renda ao longo desses anos.

De acordo com o site, as 25 pessoas mais ricas dos Estados Unidos pagam menos impostos — uma média de 15,8% da renda bruta — do que o padrão para a maioria dos trabalhadores estadunidenses.

A organização de jornalismo investigativo afirmou ter tido acesso a declarações de impostos, entre outros tipos de documentos, que compõem um “vasto tesouro de dados da Receita”, e prometeu novas revelações nas próximas semanas.

Jen Psaki, chefe de imprensa da Casa Branca, afirmou que “qualquer divulgação não autorizada de informações confidenciais do governo” é ilegal. Órgãos fiscais e o FBI (a polícia federal americana) também abriram investigações sobre o vazamento.

A BBC não conseguiu confirmar por conta próprias as revelações da ProPublica.

Um dos bilionários mencionados, o filantropo George Soros, também teria pago impostos mínimos. Seu escritório não respondeu a um pedido da BBC por posicionamento, mas disse em um comunicado à ProPublica que Soros não precisou pagar impostos por alguns anos devido a perdas em investimentos. A nota afirmou ainda que Soros apoia o aumento de impostos para os americanos mais ricos.

O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg também teve dados revelados e afirmou que o conjunto de reportagens fere direitos de privacidade — e por isso usaria “meios legais” para descobrir a fonte do vazamento.

‘Pagar zero impostos nos deixou no chão’

Antes, a ProPublica já tinha publicado várias notícias sobre como os cortes no orçamento da Receita americana prejudicaram sua capacidade de fiscalizar as grandes corporações. Segundo a organização jornalística, ela recebeu os documentos agora vazados em reação a esta cobertura anterior.

Jesse Eisinger, repórter sênior e editor da ProPublica, disse ao Today Programme, programa de rádio da BBC: “Ficamos bastante surpresos de que é possível reduzir [os impostos] a zero se você for um multibilionário. A realidade é que pagar zero impostos nos deixou no chão. Ultra-ricos conseguem contornar o sistema de uma forma totalmente legal.”

“Eles têm uma habilidade enorme para encontrar deduções, créditos e brechas.”

Em linhas gerais, eles são beneficiados pela não computação de propriedades e ações como renda — que seria tributável, como o recebimento de um salário.

Os bilionários conseguem ainda comprar ou construir ativos, ou herdar fortunas, e usar suas riquezas como garantia em empréstimos.

“Eles pegam emprestado de um banco a uma taxa de juros relativamente baixa, vivem disso e podem usar as despesas com juros para dedução de suas receitas”, explicou Eisinger.

Os ricos, como outros cidadãos, podem reduzir também o valor pago à Receita através de doações para instituições de caridades e usando dinheiro da receita com investimentos, em vez da renda obtida com salários.

“Os juros de empréstimos podem ser deduzidos de qualquer outra receita de forma a reduzir ainda mais o passivo de imposto de renda. Parece chocante — mas é legal”, analisa o editor de negócios da BBC, Simon Jack.

“Isso, dizem defensores (dessas brechas), é o capitalismo em ação. Mas como tem acontecido com o tema da tributação das multinacionais, o clamor por mudanças fiscais está ficando maior.”

“Não é de se admirar que muitos políticos em todo o mundo — como Elizabeth Warren nos EUA e Jeremy Corbyn e John McDonnell no Reino Unido — e acadêmicos como Thomas Piketty tenham defendido nos últimos anos que tributemos a riqueza, e não a renda”, completa Jack.

Em sua campanha eleitoral de 2020, e agora como presidente, Joe Biden prometeu em diversas ocasiões aumentar os impostos sobre os americanos mais ricos.

Para seu pacote de investimentos em infraestrutura anunciado em abril, o democrata apontou como fonte de verbas o aumento em impostos sobre investimentos e heranças.

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