A reportagem de capa da Piauí de fevereiro fala sobre o suicídio de jovens no Brasil. São muitos os focos da matéria, mas um chama atenção nesses tempos de guinada na política de saúde mental brasileira. O juiz Régis Bonvicino perdeu a filha Bruna, que tinha 25 anos quando se matou. Na madrugada em que Bruna se jogou do 13º andar, a jovem tinha vivido um surto particularmente agressivo. Os pais sugeriram que Bruna ligasse para o psiquiatra que a atendia na época. O médico se recusou a atendê-la, alegando “não ser especialista em tratamento de famílias violentas”. A trajetória de Bruna com os “psiquiatras de impressora”, como os chamava, começou quando tinha 14 anos. “Há um despreparo e um descompromisso enormes desses profissionais do sistema privado, que, além de tudo, pouco conversam entre si”, constata o juiz Bonvicino.
A reportagem é de Outra Saúde, 11-02-2019.
Na mesma reportagem, a pesquisadora Margareth Arilha, que é psicóloga social estuda o tema, afirma: “Precisamos impedir que a psiquiatria sequestre o suicídio”. Ela defende que o fenômeno atingiu proporções epidêmicas e demanda uma abordagem ampla, com atuação não só médica ou de profissionais da saúde, mas também de antropólogos, sociólogos, artistas e comunicadores. Já a Associação Brasileira de Psiquiatria, a ABP, que falou com a reportagem por e-mail, vai na direção oposta: “[o psiquiatra] é o profissional mais adequado para ajudar o paciente em emergências médicas desse tipo, junto de uma equipe multidisciplinar que inclui assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos e demais profissionais da saúde”. Em 2016, 11.433 pessoas se mataram no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Houve um aumento de 2,3% em relação a 2015.